«Queremos que nos apoiem, que nos deem motivo para seguir adiante pois sabemos que um dia as coisas vão mudar», desabafa um imigrante que percorreu 215 quilómetros a pé para atravessar a fronteira
«Queremos que nos apoiem, que nos deem motivo para seguir adiante pois sabemos que um dia as coisas vão mudar», desabafa um imigrante que percorreu 215 quilómetros a pé para atravessar a fronteira a escalada da crise na Venezuela obriga a população a abandonar o país em busca de sobrevivência. Estima-se que mais de três milhões já migraram para o exterior. No estado brasileiro de Roraima, nas cidades de Pacaraima e Boa Vista, milhares de migrantes vivem em condições extremamente precárias. a falta de infraestruturas para abrigar a procura de refúgio cria uma tensão social preocupante. Juan Carlo Olivero chegou com três primos e dois amigos. Eles percorreram a pé o trajeto de 215 quilómetros entre Pacaraima e Boa Vista, mas não conseguiram abrigo. À noite dormem numa rua próxima à Estação Rodoviária, onde disputam comida e um pedaço de calçada com centenas de pessoas nas mesmas condições. É triste ligar para os nossos filhos que ficaram com a mãe na Venezuela e ouvir que hoje não comeram nada, diz Juan Carlo. Queremos que nos apoiem, que nos deem motivo para seguir adiante pois sabemos que um dia as coisas vão mudar, comenta, com esperança. Estima-se que há mais de 30 mil venezuelanos em Roraima, mas apenas cerca de seis mil estão nos 13 abrigos montados com verbas do governo federal e construídos pelo Exército com o apoio do alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (aCNUR). Um bom número está em casas alugadas ou quartos que logo ficam lotados. Mas o que mais impressiona é a quantidade de gente dormindo nas ruas e praças. Durante o dia, os cruzamentos e semáforos ficam cheios de ambulantes tentando vender qualquer coisa ou simplesmente ganhar um dinheiro. O governo brasileiro concede refúgio, mas as ações de acolhimento deveriam garantir também proteção social, saúde, educação, alimentação e segurança para todos. Uma das ações para desafogar Boa Vista é a interiorização de venezuelanos noutros estados. Projeto Caminhos da Solidariedade a diocese de Roraima, através da Cáritas diocesana e o apoio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Cáritas Brasileira, Serviço Pastoral do Migrante (SPM), Instituto de Migrações e Direitos Humanos (IMDH), Serviço Jesuíta para Migrantes e Refugiados (SJMR) e outras entidades parceiras lideram o projeto Caminhos de Solidariedade – Brasil e Venezuela. O bispo de Roraima, Mário antônio, destaca a importância da integração dos imigrantes: Muitos chegam com fome e necessitados de tratamento médico. São novos irmãos necessitados de tratamento médico. São novos irmão habitando entre nós. Lançado em outubro de 2018, o programa já beneficiou mais de 60 pessoas. No dia 31 de janeiro, um grupo de 17 venezuelanos partiu de Boa Vista rumo à Paraíba. Em João Pessoa eles foram acolhidos pela arquidiocese da Paraíba e o Serviço Pastoral do Migrante do Nordeste e possivelmente serão inseridos no mercado de trabalho. a falta de emprego, a fome, a insegurança e as doenças são para os migrantes um teste de sobrevivência. E numa cidade de 500 mil habitantes, com poucas oportunidades de trabalho e acesso aos serviços públicos de saúde, transportes e educação, os migrantes logo são vistos como um problema e por vezes, vítimas de xenofobia. Mas em contrapartida tem muita gente que ajuda e é solidária. Famílias que cedem um espaço no quintal, dão trabalho e alimentação. as pastorais da diocese, as paróquias e comunidades, as congregações religiosas e movimentos com centenas de voluntários, as igrejas abrem as portas e o coração. À porta da Casa das Missionárias da Consolata todas as manhãs se forma uma fila que pode chegar a 500 pessoas para receber um pão com café. Equipa Itinerante da Consolata a Equipa Missionária Itinerante do Instituto Missionário da Consolata (IMC) está a dar prioridade às pessoas mais vulneráveis em situação de rua e aos indígenas warao que estão fora do abrigo. Depois de muita pressão, no dia 1 de fevereiro, uma equipa do aCNUR foi até a Praça augusto Germano Sampaio e cadastrou mais de 60 warao de todas as idades, que não estão a conseguir entrar no abrigo. Mas até agora ainda não tiveram resposta positiva e continuam na rua. a situação de vulnerabilidade aumenta os riscos de exploração, uso de drogas, ilícitos, fome e doenças numa população já ameaçada pelo fato de migrar. Por isso, conforme convida o Papa Francisco, é urgente: acolher, proteger, promover e integrar.