Especialista em assuntos africanos considera que os ataques na província de Cabo Delgado podem estar mais relacionados com problemas locais ligados à pobreza, do que com motivações religiosas
Especialista em assuntos africanos considera que os ataques na província de Cabo Delgado podem estar mais relacionados com problemas locais ligados à pobreza, do que com motivações religiosas Os ataques registados no norte de Moçambique, sobretudo na região de Cabo Delgado, podem estar na origem de um possível movimento de revolta popular que ganhou dinâmica após o ataque inicial de uma seita islâmica radical a Mocímboa da Praia, em outubro de 2017, em que morreram dois polícias e 14 atacantes, afirmou o especialista em assuntos africanos, Eric Morier-Genoud. Sabemos o que aconteceu em Mocímboa da Praia, uma seita foi reprimida e atacou a cidade. Este foi o primeiro ato público com uma agenda religiosa, mas a seguir a situação evoluiu, é muito possível que essa seita tenha começado um movimento associado a outras dinâmicas, declarou o investigador de História de África e mundo lusófono, à margem da conferência Missionação e Poder Colonial em angola e Moçambique no século XX que decorre esta segunda-feira, 10 de dezembro, em Lisboa. Eric Morier-Genoud apontou a insatisfação da população como uma das causas do desenvolvimento da insurreição, assim como problemas de terras e tensões sociais na zona. a população vive na pobreza, sobretudo nas áreas rurais, e esta pobreza cresceu nos últimos anos, em simultâneo com a desilusão face às expectativas de desenvolvimento económico criadas pelo governo devido à exploração de gás natural no território, acrescentou. a onda de violência no norte do país ganhou projeção mediática após o ataque de Mocímboa da Praia e desde então foram noticiados dezenas de ataques que provocaram a morte a cerca de 100 pessoas, de acordo com números oficiais.