Não tinha tamanho a disponibilidade de Zita para recorrer aos mais diversos serviços, a resolver assuntos do Manuel, ou da Raquel, ou de qualquer outro que precisasse de ajuda
Não tinha tamanho a disponibilidade de Zita para recorrer aos mais diversos serviços, a resolver assuntos do Manuel, ou da Raquel, ou de qualquer outro que precisasse de ajuda Os sinos tocavam – tristes! Despediam Zita. Todos sabiam, na freguesia e para além dela. Zita terminara a sua viagem especial pela vida. Ela fora realmente especial. ali estava ela, rodeada de flores numa igreja repleta, a testemunhar a estima que ela merecera e o obrigado que lhe deviam. Vieram jovens e adultos e não faltaram os velhinhos. a muitos, Zita mudara a vida. Estavam os quatro filhos e o marido, doridos, sabendo que nada mais seria igual. É que aquela senhora que fizera 72 anos, possuía e alimentava uma energia que repartia sem medida. Também sem medida, era a alegria que oferecia em todos os dias 25 e 26 de dezembro, quando à casa dos idosos e dos que viviam sozinhos, chegavam os filhos de Zita com a marmita térmica, preenchida com carne assada com batatas assadas e arroz – era a receita de família de Zita, com mais de 150 anos, e que Zita fazia questão de partilhar com os sozinhos. De tamanho sem igual, ali na catequese onde Zita ensinou durante 56 anos, era o seu dom para acolher e integrar as crianças ou jovens que ninguém queria. a estes, Zita acolhia em sessão particular, personalizada, importando-se, acreditando, impulsionando, esperando. Depois, quando já confiantes, prontos para os desafios, retornavam ao grupo, numa nova experiência que sabe ser e é aceite em grupo. Não tinha tamanho a disponibilidade de Zita para recorrer aos mais diversos serviços, a resolver assuntos do Manuel, ou da Raquel, ou de qualquer outro que precisasse de ajuda e não soubesse lidar com papéis, ou não soubesse falar explicado, ou não tivesse possibilidade de lá chegar, ou, simplesmente estivesse de braços caídos sem saber pedir ajuda. Zita instruía, acompanhava, lado a lado, dava voz, insistia. Conseguia!Não havia cansaço que impedisse Zita de, todos os meses, percorrer as famílias da freguesia que se comprometeram a contribuir para a construção de uma instituição para crianças e jovens. Percorria quilómetros, mas não esquecia ninguém, por mais pequenina que fosse a contribuição, deixando em troca um sorriso agradecido e a confirmação de que juntos, construíam um mundo com crianças mais felizes. Foi neste sonho de justiça que Zita educou os filhos. Sonhou para eles um mundo mais humano. Por isso, ensinou-os a sentir a dor nos olhos magoados e a inventar alegria para lhes levar. Sonhou para eles uma vida empenhada. Por isso, no final do dia de trabalho, esquecia cansaços e estudava com eles a lição para o dia seguinte, encaixando nelas as outras lições que a Zita mãe fazia questão de ensinar. Desejou que os filhos quisessem ver, quisessem ouvir e pudessem agir. Para isso, partilhou com eles princípios, valores, a vida, o seu jeito de ser próxima, de ver e de ouvir, de sentir e dar a mão. Por tudo o que Zita fora e inspirara, um grupo da comunidade organizou-se para, naquele dia, lhe oferecer uma prenda, tal como ela fora para eles: uma prenda especial. Ofereceram-lhe uma missa cantada. Foi assim que, naquele dia de fim de maio, ao som triste dos sinos se juntou uma música viva, alegre, que cantava a esperança e o reconhecimento, em homenagem a uma pessoa que permanece pulsante nas vidas que ela transformara.