Trabalho missionário em Moçambique colocou Luciano Simão perante o drama da procura de água e lenha, e dos casamentos precoces, mas também revelou uma grande hospitalidade e a alegria das crianças para as quais garantia a alimentação diária
Trabalho missionário em Moçambique colocou Luciano Simão perante o drama da procura de água e lenha, e dos casamentos precoces, mas também revelou uma grande hospitalidade e a alegria das crianças para as quais garantia a alimentação diáriaDez meses de voluntariado em Moçambique permitiram a Luciano Simão conhecer-se melhor, compreender melhor os outros, enfrentar diariamente a busca pela água e lenha, confrontar-se com o drama dos casamentos precoces, mas também alegrar-se com os gestos genuínos e a postura curiosa das crianças, e conhecer pessoas que o receberam da melhor forma que lhes foi possível.

Também notório foi o trabalho na Igreja, por exemplo, através da Comissão Justiça e Paz, que se dedica a dar a conhecer os direitos humanos. Lembro-me que houve uma altura em que era muito difícil ter acesso à água na cidade de Pemba e os elementos desta comissão escreveram cartas para pedir melhores condições para o povo, recorda o seminarista de 35 anos.

Perante a problemática dos casamentos precoces, um fenómeno que o missionário caracteriza como algo muito sério e comum, sobretudo nos interior do país, foi possível perceber a atuação da Comissão Justiça e Paz através da realização de palestras, encontros pessoais e com as comunidades, distribuição de informação e debates, nos quais Luciano Simão se envolveu.

a Igreja tem debatido fortemente [os casamentos precoces] e agora, graça a Deus, tem um excelente bispo, que merece estar lá – Luís Fernando Lisboa – brasileiro. Tem feito um bom trabalho, realçou o estudante de Teologia da Sociedade Missionária Boa Nova. Esta comissão tem trabalhado bastante bem e verificam-se algumas melhorias, apesar deste ser um problema que carece de tempo para ser resolvido, demonstrou o missionário nascido em angola.

além do contacto com a Comissão Justiça e Paz, Luciano tratou da logística para três creches administradas pelos Missionários da Boa Nova, onde também animou e instruiu os mais pequenos, procurando não deixar sem resposta os seus porquês, ensinando-lhes orações, mas também contando anedotas. a despedida dos mais novos, após a experiência missinária, foi algo que deixou o seminarista emocionado. Eu trabalhava na parte logística, que envolvia procurar aquilo que era possível para preparar a alimentação para as crianças, como água e lenha. Não foi fácil porque às vezes éramos mesmo obrigados a entrar com a carrinha na mata à procura de lenha e água, com as pessoas das creches à nossa espera. Foi uma tarefa muito difícil mesmo. E era quase “pão” de cada dia fazer isso: íamos de manhã e regressávamos ao meio-dia. Também tratávamos de fazer compras como feijão, arroz, peixe e carne, explicou o missionário.

Luciano realça que as creches onde trabalhou ao longo de 2015 são demonstrativas de uma ação da Igreja, que assume um carácter integral, desde o início da vida dos seres humanos. Quando se fala em Evangelização trata-se de promover a pessoa toda. a Igreja recebe desde o berço, acolhe nas creches, e prossegue nas escolas primárias, colégios e universidades. a Igreja está a fazer um bom trabalho. Claro que tem de fazer mais, mas os benefícios são notórios no terreno, apontou o missionário.

Luciano Simão é um dos 60 alunos do Curso de Missiologia, que está a decorrer nas instalações dos Missionários da Consolata, em Fátima, até sábado, 1 de setembro, após ter iniciado no início da semana. a formação celebra este ano o seu 25. º aniversário, e tem em vista a qualificação do missionário e, consequentemente, da missão, visando preparar os participantes para os desafios da inculturação e do diálogo do cristianismo com outras religiões, explicam os organizadores do curso.