Perante os casos de abusos sexuais, os temas de tradição que a Igreja «dizia intocáveis, se calhar vão ter de ser tocados», advertiu o jornalista Joaquim Franco, em Fátima
Perante os casos de abusos sexuais, os temas de tradição que a Igreja «dizia intocáveis, se calhar vão ter de ser tocados», advertiu o jornalista Joaquim Franco, em FátimaOs casos de pedofilia dentro da Igreja, e a abordagem que os meios de comunicação social fazem do tema, são um dos assuntos em análise esta quinta-feira, 30 de agosto, no Curso Missiologia, em Fátima. a orientar a formação está Joaquim Franco, jornalista na SIC e perito em temáticas religiosas.

Vejo estes últimos dias com tremenda perplexidade. a última coisa que poderia ser apontada ao atual Papa para o fragilizar era precisamente a pedofilia. E é isso que está a acontecer. Deixa-me perplexo se eu me puser de fora. Se eu olhar de dentro, e conhecer os meandros da comunicação, é fácil perceber porque é que isto acontece, referiu Joaquim Franco.

O jornalista considera que enquanto houver um caso único que seja, enquanto houver memória do drama da pedofilia dentro das portas da Igreja, não há Papa que resista. a dinâmica mediática há-de crucificar esse Papa. ainda hoje a Igreja sofre pela inquisição. a lógica mediática funciona desta forma, explicou o profissional. O especialista também mostrou acreditar que este assunto se torne como muitos outros fenómenos mediáticos, e comparou-o a uma catástrofe natural. Vai ser uma “erupção vulcânica”, e depois, o “vulcão desaparece. Mas há-de voltar outra vez. Há-de ser cíclico, apontou.

Perante este panorama, o jornalista chamou a atenção da audiência para a possibilidade deste problema exigir outro tipo de atitude e de responsabilidades por parte da Igreja em relação a estes casos. O profissional acredita que já não chega levar os criminosos aos tribunais, uma vez que o nível de exigência para a resolução deste problema já é tremendamente maior.

Se calhar a Igreja vai ter de repensar os alicerces da sua própria tradição. E os temas de tradição que dizia intocáveis, se calhar vão ter de ser tocados. Se calhar é isso que vai ter de acontecer. E enquanto isso não acontecer, “erupções e vulcões” ligados à memória dos tremendos e hediondos crimes de pedofilia na Igreja hão-de estar a cercar o Papa, cardeais, bispos, crentes e leigos, enumerou o jornalista, apontando aos formandos uma outra “via” que a Igreja poderá trilhar.

Se calhar os leigos têm de tomar aqui uma posição mais firme. Se calhar os leigos, em algumas dimensões, têm de tomar as “rédeas” da Igreja, sugeriu o profissional perante uma audiência formada por religiosos, seminaristas, leigos e missionários. Estou a usar uma expressão muito revolucionária da vida da Igreja, mas se calhar vai ter de ser. Se calhar, em algumas dimensões, os leigos têm de ser chamados à responsabilidade. Não apenas serem um “naperom” da sacristia, mas se calhar vão ter de ser chamados a assumir algumas responsabilidades, disse o profissional.

as declarações do jornalista integram a sua intervenção – Religião, missão e comunicação – do equívoco ao acontecimento – que esta quinta-feira chega até aos alunos do Curso de Missiolagia. a formação reúne nas instalações dos Missionários da Consolata 60 participantes de várias partes do mundo. Depois de ter iniciado na última segunda-feira, 27 de agosto, o curso prolonga-se até ao próximo sábado, 1 de setembro.