O português deverá permanecer no país africano por um período «mínimo de dois anos». a partida está prevista para «outubro ou novembro». ate lá, o voluntário dedica-se a leituras sobre a história e cultura do país que o vai receber
O português deverá permanecer no país africano por um período «mínimo de dois anos». a partida está prevista para «outubro ou novembro». ate lá, o voluntário dedica-se a leituras sobre a história e cultura do país que o vai receber a vontade viver em comunhão e em partilha com os outros levou Pedro Nascimento, de 29 anos, a deixar o seu emprego para partir em missão, por um período mínimo de dois anos. Deixei de exercer [advocacia] a 31 de maio, altura em que me despedi do escritório onde trabalhava para começar a preparação imediata para partida para a Etiópia, contou o jovem natural de Portalegre.

a residir em Lisboa, o advogado deverá partir para a Etiópia em outubro ou novembro. até lá, prepara-se para a missão, o que passa, atualmente, por uma experiência comunitária, e pelo aprofundamento da língua e estudo sobre o país e cultura com que irá lidar nos próximos anos. Estudo sobre as missões combonianas e o que têm feito, através de testemunhos e livros. Procuro saber a história da Etiópia, a sua cultura e a própria história da Igreja no país, contou Pedro, adiantando que quando chegar ao local de missão, cerca de quatro ou cinco meses serão dedicados à aprendizagem da língua amarica, a principal língua da Etiópia.

Trocar o emprego pela missão foi uma decisão que obrigou o jovem a um discernimento grande, com algumas dificuldades e dúvidas, ao longo destes anos. a dúvida em relação à capacidade de arranjar novamente um emprego, após o período de missão, ocupava os pensamentos de Pedro, mas uma vez ultrapassada a luta interior, familiares e amigos demonstraram apoio, aceitação e alegria pela decisão do missionário.

O contacto com o povo africano não será uma novidade para Pedro, que já fez duas experiências missionárias, ambas em Carapira, no norte de Moçambique, em 2015 e em 2017, por um período de cerca de 30 dias cada, através dos Missionários Combonianos. Lá Pedro viveu momentos de grande felicidade e emoção. Em declarações à Fátima Missionária, o jovem deu conta de um episódio que o marcou de forma especial.

a mulher do cozinheiro da paróquia estava já internada no hospital há um mês, e precisava de um dador de sangue. Eu nunca tive muita coragem para dar sangue, mas não sei porquê, naquele dia enchi-me de coragem e disse: “Vamos fazer o teste para eu saber o grupo meu sanguíneo – nem sabia – e se for, então, vamos dar este sangue”. Fui fazer o teste e eu era compatível. aquilo que a família não tinha conseguido… Depois de ter tomado o meu sangue, a senhora voltou para casa no dia a seguir, recorda o missionário.

Como forma de agradecimento, o marido da mulher recuperada pediu na paróquia para fazer bolos para os jovens portugueses em missão no local naquela altura. No dia em que eu me fui embora, agarrou-se a mim a chorar e disse que eu lhe salvei a vida da mulher. Lembro-me que naquele dia, não só ele chorou. Chorei eu, chorou todo o meu grupo, porque a intensidade e a veracidade daquela frase tocou-nos bastante. E tocou-me de tal forma que eu cheguei a Portugal e disse -“Se lá fiz, cá também vou ter que fazer” – e comecei a dar sangue cá também em Portugal. Às vezes pensamos que estas missões de um mês são muito pequenas, ou que são turismo religioso, mas estes momentos que nos marcam, e que marcam a vida destas pessoas, dizem-nos o contrário, demonstrou o jovem.

a missão passou pelo contacto com situações em que foi claro que as pessoas carecem de condições que não existem, que há dificuldades nos hospitais, desvio de medicamentos e um sofrimento que causa mal-estar em quem observa. Mas a missão contemplou também muito outros episódios, onde entraram visitas a doentes, idosos, hospitais, e momentos de muita alegria e confraternização.

Todas estas vivências tornaram Carapira num sítio muito feliz para o português. ainda sinto vontade de voltar lá novamente. Uma terceira vez, realçou o jovem, destacando que o mais bonito de Moçambique são mesmo as pessoas. Enquanto não torna a ser Moçambique o local de destino, é a Etiópia o país para o qual o missionário parte de coração aberto, rumo a um diálogo intercultural e intergeracional e aberto para ver novas vivências. O jovem advogado é um dos 60 participantes do Curso de Missiologia, que se encontra a decorrer nas instalações dos Missionários da Consolata, em Fátima. a formação tem em vista a qualificação do missionário e, consequentemente, da missão, e visa preparar os participantes para os desafios da inculturação e do diálogo do cristianismo com outras religiões, explicam os organizadores da iniciativa, que decorre de 27 de agosto a 1 de setembro.