Dois cardeais estarão por detrás da decisão. Uso do anticonceptivo não deveria ser problema, diz o teólogo.
Dois cardeais estarão por detrás da decisão. Uso do anticonceptivo não deveria ser problema, diz o teólogo. Juan Masiá Clavel, director da cátedra de Bioétia a Universidade Pontifí­cia de Comillas, de Madrid, foi demitido do seu cargo e deixará, no final deste ano lectivo, de ensinar naquela escola. Em causa, estão as posições deste teólogo e padre jesuíta, que defende o uso dos meios anticoncepcionais e do preservativo, bem como a possibilidade de discordância dentro da Igreja.
Por detrás da decisão, de acordo com diversas fontes eclesiásticas citadas pela imprensa espanhola, estão os cardeais alfonso López Trujillo, presidente da Comissão Pontifí­cia para a família, e antonio Maria Rouco Varela, arcebispo de Madrid. Masiá, padre jesuíta, viveu 35 anos no Japão, onde dirigiu o Instituto de Ciências da Vida da Universidade de Sofia.
Com 65 anos, a completar em Março, Masiá ocupava a direcção da cátedra em Madrid desde Fevereiro de 2004. aqui substituí­ra o também jesuíta Javier Gafo ” que, apesar de ser assessor dos bispos espanhóis e do Vaticano, também teve problemas com sectores da hierarquia. Masiá publicou, em Portugal, a Sabedora do Oriente (ed. notícias).
O fundador dos jesuítas era referência de Masiá, segundo a última lição que o teólogo proferiu. Dizia ele que os seguidores de Inácio de Loiola sentem a vocação de “fazer pontes e equilí­brios na fronteira”: “Entre a investigação e a divulgação, entre estar presente nos meios de comunicação e não deixar-se manipular por eles, entre a pastoral e o trabalho em terrenos de marginalização, entre a espiritualidade e a moral, entre o Oriente e Ocidente, Roma e Jerusalém, entre ciências e crenças, entre a fidelidade e a criatividade, entre a pastoral ad intra [para dentro da igreja], e a missão ad extra [para fora]. “
O mal-estar em relação a Masiá vinha de 2004, quando, no artigo Exageros no meu país, na revista Eclesalia, comparava o que vivera no Japão com o que encontrara em Espanha: “Por exemplo, no caso ” meio cómico, meio anacrónico ” à volta do preservativo: não se sabe se havemos de rir ou chorar. Nem sequer tinha que ser problema. Não só como prevenção de um contágio, mas como anticonceptivo corrente, pode usar-se para evitar uma gravidez não desejada e evitar o aborto. Há muita que a teologia moral ultrapassou esse falso problema. ” E acrescentava que se pode discordar no interior da Igreja, “por fidelidade à própria Igreja”.
Sobre a sua destituição, Masiá pediu apenas que o reitor e o superior dos jesuítas em Espanha não fossem responsabilizados. O reitor da Universidade assumiu sozinho “a responsabilidade de algo que não tem a culpa, poupando às autoridades eclesiásticas os incómodos de dar a cara para se responsabilizarem”, escreveu, numa carta dirigida aos colegas de Comillas.
antónio Marujo | Público