Francisco usou uma passagem do Evangelho, em que Jesus diz «não deve ser assim entre vós», para recordar que a reforma da Igreja deve fugir à tentação da intriga e ser levado por diante com sentido de missão
Francisco usou uma passagem do Evangelho, em que Jesus diz «não deve ser assim entre vós», para recordar que a reforma da Igreja deve fugir à tentação da intriga e ser levado por diante com sentido de missão Nenhum de nós se deve sentir “superior” a outrem. Nenhum de nós deve olhar os outros de cima para baixo; só podemos olhar assim uma pessoa, quando a ajudamos a levantar-se. Esta foi a mensagem deixada pelo Papa Francisco aos novos cardeais, no Consistório desta quinta-feira, 28 de junho, em Roma, onde também será elevado ao cardinalato o bispo de Leiria-Fátima, antónio Marto. Numa homilia centrada na passagem do Evangelho em que Jesus segue na frente dos discípulos e lhes diz: Não deve ser assim entre vós. Quem quiser ser grande entre vós, faça-se vosso servo, o Pontífice chamou a atenção para os efeitos nefastos da ambição desmedida, da inveja e da intriga, não só na sociedade em geral, mas também dentro da própria Igreja Católica. Quando nos esquecemos da missão, quando perdemos de vista o rosto concreto dos irmãos, a nossa vida fecha-se na busca dos próprios interesses e seguranças. E, assim, começam a crescer o ressentimento, a tristeza e a aversão. Pouco a pouco, diminui o espaço para os outros, para a comunidade eclesial, para os pobres, para escutar a voz do Senhor. Deste modo perde-se a alegria, e o coração acaba na aridez, alertou o Papa. Jesus ensina-nos que a conversão, a transformação do coração e a reforma da Igreja são feitas, e sempre o devem ser, em chave missionária, pois pressupõem que se deixe de olhar e cuidar dos interesses próprios para olhar e cuidar dos interesses do Pai. a conversão dos nossos pecados, dos nossos egoísmos não é nem será jamais um fim em si mesma, mas visa principalmente crescer em fidelidade e disponibilidade para abraçar a missão; e isto de tal maneira que na hora da verdade, especialmente nos momentos difíceis dos nossos irmãos, estejamos claramente dispostos e disponíveis para acompanhar e acolher a todos e cada um e não nos transformemos em ótimos repelentes por termos vistas curtas ou, pior ainda, por estarmos pensando e discutindo entre nós quem será o mais importante, acrescentou o Pontífice. Dirigindo-se depois aos cardeais e aos neo-cardeais, Francisco lembrou que a única autoridade crível é a que nasce de se colocar aos pés dos outros para servir a Cristo. É a que deriva de não esquecer que Jesus, antes de inclinar a cabeça na cruz, não teve medo de Se inclinar diante dos discípulos e lavar-lhes os pés. Esta é a mais alta condecoração que podemos obter, a maior promoção que nos pode ser dada: servir Cristo no povo fiel de Deus, no faminto, no esquecido, no recluso, no doente, no toxicodependente, no abandonado, em pessoas concretas com as suas histórias e esperanças, com os seus anseios e deceções, com os seus sofrimentos e feridas. Só assim a autoridade do pastor terá o sabor do Evangelho e não será como um bronze que soa ou um címbalo que retine.