Giorgio Marengo, padre da Consolata a trabalhar na Mongólia, faz uma análise para a Fátima Missionário das convulsões políticas da Mongólia no mês de Janeiro.
Giorgio Marengo, padre da Consolata a trabalhar na Mongólia, faz uma análise para a Fátima Missionário das convulsões políticas da Mongólia no mês de Janeiro. O mercúrio do termómetro esta manhã chegou aos 30 graus negativos, quase a desmentir o Inverno “suave”, antes que a lua nova do novo ano o faça passar à história como um dos menos frios dos últimos anos. Neste dia de festa, 29 de Janeiro, não se pode falar de nada mau, mencionar experiências negativas, acidentes, doenças ou luto; o gelo de hoje parece querer fechar a boca de quem ainda tem alguma coisa para dizer. E há muito que dizer.
a começar pelo novo primeiro-ministro, que a 25 de Janeiro recebeu reconhecimento oficial por parte do parlamento mongol, reunido em sessão extraordinária. Enkhbold, antigo presidente da câmara de Ulaanbaatar e chefe do Partido Popular Revolucionário Mongol (PPRM), sucede ao democrático Elbegdorj, que a 11 de Janeiro recebeu um voto de não confiança dos 10 ministros do PPRM. Este acontecimento inesperado aconteceu seis meses antes do momento previsto para alternar o governo, de acordo com o pacto assinado nas últimas eleições, em 2004.
Na verdade, a estratégia tinha sido estudada ao pormenor; o último e decisivo Capítulo foi o polémico aumento dos preços dos transportes públicos na capital. O aumento não foi autorizado pelo governo, mas o PPRM soube manipular o acontecimento desacreditando o próprio governo. Esta foi a gota de água que fez transbordar o copo.
Se tivermos em conta que entre o fim de ano civil e o lunar as famílias estão mais sensí­veis a temas como o custo de vida, a inflação e a situação salarial, não é difícil ver que o momento era propí­cio para a acção Política.
Os movimentos de protesto, que se desencadearam espontaneamente, não foram suficientes para interromper o movimento da máquina Política. Entretanto, no parlamento mongol (Ikh Khural) os parlamentários democráticos chegavam ao final dos cinco minutos de que dispunham para o debate com muito para dizer, enquanto os que apoiavam este “golpe de estado branco” faziam longas pausas, reiterando discursos de circunstância. Tudo sob o olhar da população que, excepcionalmente, pôde seguir a transmissão em directo por televisão.
Esta mudança repentina de governo não parece representar uma ameaça às liberdades individuais e aos direitos. Porém, o processo democrático não deveria ser interrompido deste modo, apenas dois meses depois da visita de George Bush, confirmando a atenção internacional por este país que fica entre a Rússia e a China. O ingresso consistente de capital estrangeiro, que praticamente sustém a economia mongol, pode agora ser drasticamente reduzido, o que não beneficiaria ninguém.
Custa constatar que os 14 anos de experiência democrática pareçam ter sido apagados em duas semanas por quem ainda procura raízes políticas nos setenta anos em que havia apenas um partido, o comunista.
Há o receio agora de que esta súbita mudança de governo possa, de algum modo, travar o empenho contra a corrupção que o anterior governo demonstrou e que começava a dar frutos. Talvez essa mesma corrupção seja o principal inimigo da democracia. aumentam agora as posições xenófobas e contra os estrangeiros, sobretudo os chineses, alimentadas por uma imprensa sempre atenta aos movimentos em falso e crimes dos cidadãos de outros países.
Mas nestes dias foi o “bituu”, a grande Vigília do ano novo. Não houve espaço para as coisas negativas. até os políticos se deram uma trégua oficial. as pessoas, nas suas casas, sentiram por um dia a abundância de carne e correram rios de vodka. Todos foram acolhedores, até com os estrangeiros que bateram à sua porta. Todos unidos ao redor de uma identidade que permanece e que pode contar com uma capacidade de resistência às provas mais duras da história. Esta é a esperança, debaixo deste céu azul que não deixa que ninguém lhe roube a sua cor.
Da Mongólia desejo um bom ano a todos!