Primeiro produtor mundial de petróleo, a arábia Saudita sofre com a concorrência de países como os EUa, que começaram a extrair petróleo de xisto, e vê as finanças muito afetadas pela quebra do preço do barril
Primeiro produtor mundial de petróleo, a arábia Saudita sofre com a concorrência de países como os EUa, que começaram a extrair petróleo de xisto, e vê as finanças muito afetadas pela quebra do preço do barrilConhecida pelo rigor do seu islão, dominado pela corrente wahabita, a arábia Saudita é ainda o único país do mundo que proíbe as mulheres de conduzir, mas no verão uma lei mudará isso. É a novidade mais falada da governação do rei Salman e do príncipe herdeiro Mohammed Bin Salman, mas vem acompanhada de muitas outras que nascem tanto da convicção pragmática dos líderes que é preciso acompanhar o espírito dos tempos como da pressão gerada pela quebra do rendimento petrolífero. Situado junto ao palácio de Murabba, o Museu Nacional da arábia Saudita conta a história do país desde a época pré-histórica e deixa bem claro quem são as duas figuras a ter em conta: o profeta Maomé, cuja migração de Meca para Medina em 622 marca o início do calendário lunar islâmico (estão no ano 1439), e abdulaziz Ibn Saud, que depois de conquistar o Hedjaz o unificou ao seu bastião do Najd e fundou em 1932 o reino da arábia Saudita. Nos jardins junto ao museu, salta também à vista que Riade é uma cidade conservadora, com a maior parte das mulheres a usar o niqab, que cobre o rosto exceto os olhos, e a abaya, longo manto que oculta as formas e que pode ter cores mas em regra é preto. Bayan B. Barry, uma informática de 30 anos de rosto descoberto, explica que ninguém é obrigado a usar o niqab, e que se muitas sauditas o fazem é porque é uma tradição cultural e não porque seja uma regra do Islão. aliás, o próprio Islão extremo como nos habituámos a associar à arábia Saudita está a ser posto em causa, e não só pelos jovens como pela própria liderança política. Samareh Mousky, outra saudita de 30 anos e rosto à mostra, diz que a vaga de reformas lançada pelo rei Salman e pelo seu filho, o princípe herdeiro Mohammed Bin Salman, entusiasma os jovens e mostra como no topo do Estado se percebeu o sentimento geral. Salman está no poder desde 2015. É o sexto filho de Ibn Saud a ascender ao trono. aos 82 anos, percebe-se que a saúde é frágil, mas o dinamismo com que procura mudar o país confirma a fama que tinha de ser um pragmático. Para o apoiar na espécie de revolução instigada de cima está MBS, a sigla usada para designar o príncipe herdeiro, de 32 anos. Ministro da Defesa, também à frente do comité que quer modernizar a economia, MBS será o primeiro neto do fundador do reino a liderar o país. Basta ler o jornal em inglês arab News’ para se confirmar que pai e filho não param: primeiro concerto de jazz, início da construção de um teatro de ópera, uma mulher nomeada vice-ministra, carreira militar aberta às sauditas, projeto para nova cidade tecno-ecológica, encontro do príncipe herdeiro no Egito com o Papa dos cristãos coptas, advertência aos imãs para defenderem um Islão tolerante, as novidades são imensas. Por ser simbólico de um final de era, o fim da proibição das mulheres conduzirem já este verão é a mais falada das mudanças. Em Riade, quem está zangado são os motoristas paquistaneses, com medo de perder o emprego (os trabalhos braçais são em grande parte feitos por imigrantes, um terço dos 33 milhões de habitantes). Pelo contrário, os fabricantes de automóveis estão a preparar uma ofensiva, pois quem já visitou centros comerciais como o Kingdom Tower sabe que nem o vestuário conservador faz com que as sauditas desistam de comprar relógios, perfumes e malas de luxo e quem tem dinheiro para jóias também o tem para carros. Isto já para não falar das mulheres com profissões, que anseiam um meio de transporte que as torne mais independentes. Primeiro produtor mundial de petróleo, a arábia Saudita sofre com a concorrência de países como os Estados Unidos da américa (EUa), que começaram a extrair petróleo de xisto, e vê as finanças muito afetadas pela quebra do preço do barril. No ano passado, a economia cresceu só 0,1 por cento, dando razão ao taxista Pervez, um imigrante do Paquistão, que me disse já ter visto melhores anos. Por isso, o Visão 2030, projeto apadrinhado pelo rei Salman e por MBS, quer diversificar as fontes de receita, apostando nas energias renováveis, no turismo e em tudo o que possa trazer diversidade à economia. E além das milionárias reservas de divisas, o país pode contar para financiar tudo isto com a venda de cinco por cento da Saudi aramco, a maior empresa petrolífera.como sombra a todo este projeto surge a rivalidade com o Irão. Desde o Iémen ao Líbano, passando pela Síria, sauditas e iranianos disputam influência, muitas vezes sob a forma de guerras por procuração. Fala-se mesmo de um embate entre o Islão sunita e o Islão xiita. Mas a favor da arábia Saudita joga a aliança com os EUa, que vem dos tempos de Franklin Roosevelt e Ibn Saud. Esta aliança é sólida, estrutural, não depende de figuras, garante adil a. al-Qusadi, presidente do Gulf Think Tank. Entretanto, MBS ameaçou que fará uma bomba nuclear se o Irão for nesse sentido, apesar do acordo internacional para condicionar a atividades civis o seu programa nuclear.