a trabalhar há 16 anos em território venezuelano, o padre Charles Gachara Munyu, missionário da Consolata, é testemunho do sofrimento da população, que não tem o que comer. E enaltece o Espírito de solidariedade que tem crescido entre os que mais precisam a trabalhar há 16 anos em território venezuelano, o padre Charles Gachara Munyu, missionário da Consolata, é testemunho do sofrimento da população, que não tem o que comer. E enaltece o Espírito de solidariedade que tem crescido entre os que mais precisamComo está a evoluir a situação social e política na Venezuela?Quando cheguei, em 2002, sentia-se muita esperança, com uma situação política, social e económica muito próspera. Mas com o decorrer dos anos, tudo se foi deteriorando, especialmente com uma mudança política que leva o povo a sofrer, porque neste momento não tem o necessário para sobreviver dignamente. Falta alimentação, medicamentos, serviços públicos e segurança, o que gera muita violência e divisões. É difícil propor um caminho, pois o governo não está disposto a dialogar. E como estão os venezuelanos a enfrentar a crise?Este momento de crise em vez de separar tem unido mais os venezuelanos. as dificuldades geraram uma grande sensibilidade e espírito de partilha, onde o que tem um quilo de farinha não pensa que pode comer sozinho, mas partilha com o que não tem. Vê-se muita generosidade e sensibilidade, com muita solidariedade entre todos. Qual o papel dos missionários perante tanta dificuldade?O missionário está com o povo: e o que sofre o povo também sofre o missionário. Sente-se que as pessoas confiam nos missionários, e que estão com eles, pois também passam pelas mesmas necessidades e sofrimentos. Sentimos que a nossa presença é muito importante, mesmo que não tenhamos nada material para oferecer. E procuramos dar uma palavra de ânimo e unidade, ajudando as pessoas a sentir que mesmo perante as dificuldades, há sempre uma esperança e existe um Deus que não nos abandona. E a Igreja venezuelana, como tem reagido? a Igreja tem estado próxima do povo e é a Igreja que melhor conhece toda a situação. Os bispos estão atentos e têm insistido muito no processo de paz e nas tentativas de diálogo entre governo e oposição. Qual seria, na sua opinião, a solução para esta crise? a solução dependerá de muitos fatores, mas o fundamental é que as partes dialoguem num espírito firme e constitucionalmente democrático, não apenas a partir do interesse de um determinado grupo. Nesse aspeto, a Igreja tem um papel fundamental na procura de um verdadeiro diálogo, onde se reconheçam os erros cometidos, e de uma verdadeira reconciliação que sane as feridas para construir um novo capítulo na história do país. Perante um povo dividido e manipulado pela fome e escassez, é necessário um diálogo sincero e uma visão de conjunto do tipo de país que se quer para os venezuelanos.como despertou a vocação missionária que o levou até à Venezuela?Eu sou da etnia kikuyu, de Nieri (Quénia), uma comunidade muito distante, onde aos domingos eram os catequistas que realizavam a celebração da palavra. O padre ia celebrar de dois em dois meses e o que mais me impressionava era ver a entrega dele, uma pessoa que não era de minha tribo e que aprendeu o meu idioma, arriscar a sua vida para estar connosco. E me perguntava porque ele fazia tudo isso? Então, comecei a dizer que quando crescesse queria ser como ele. assim foi crescendo a minha vocação missionária. após ser ordenado, fui enviado para a Venezuela, em 2002. Estive a trabalhar em Barquisimeto por 10 anos, tanto na paróquia como na animação missionária. E atualmente estou a acompanhar a Pastoral afro, em Barlovento.