Os profissionais acreditam que poderá estar em causa a relação entre médicos e doentes, assim como a destruição da própria medicina
Os profissionais acreditam que poderá estar em causa a relação entre médicos e doentes, assim como a destruição da própria medicinaOs membros da associação dos Médicos Católicos Portugueses (aMCP) defendem que a proposta de Lei a favor da legalização da eutanásia em Portugal, apresentada pelo Bloco de Esquerda (BE) no último sábado, 3 de fevereiro, vai afetar de forma grave a relação entres médicos e doentes.

Não há qualquer legitimidade ética para se aprovar uma lei cuja aplicação criará uma desconfiança generalizada na relação médico-doente, isto porque, o poder de provocar ou antecipar a morte de alguém, ainda que a pedido do próprio, vai contra a própria medicina; é um poder que inevitavelmente destrói a medicina, acreditam os membros da associação.

Os elementos da entidade, presidida por Pedro afonso, médico psiquiatra, reafirmam a sua discórdia em relação à legalização da eutanásia e identificam aqueles que consideram ser os perigos da aprovação desta proposta de Lei. a medicina apoia a sua prática no diagnóstico e no tratamento das doenças, no alívio do sofrimento dos doentes, sempre com a finalidade de defesa da vida humana. Se admitirmos a eutanásia, a relação de confiança médico-doente, que assenta numa base de confiança que deve ser respeitada e que é a base da medicina, é destruída, reforçam.

a proposta de Lei do Bloco de Esquerda prevê a participação de médicos numa Comissão de avaliação dos Processos de antecipação da Morte. admitir que os médicos possam validar ou participar numa decisão que provoca a morte, com o objetivo de eliminar o sofrimento, é absolutamente inaceitável, apontam.

O médico não pode mudar de posição, não pode fazer tudo para melhorar a vida do doente e, em simultâneo, agir, a pedido do doente, no sentido de lhe tirar a vida, ajudando ao suicídio. Os médicos não podem alternar entre serem uma referência profissional, amiga e confiável e serem os executantes de uma sentença de morte arbitrária, acrescentam, em comunicado.

Os membros da aMCP referem que não poderá ser qualquer ideologia ou condição a favorecer um procedimento da área da medicina. Nenhuma circunstância ou ideologia poderá apagar do espírito humano a certeza de que a eutanásia – ou o suicídio assistido – não pode ser considerada um ato clínico, já que não se destina a aliviar ou a curar uma doença, mas sim a pôr termo à vida do paciente.