Devido às dificuldades económicas 20% dos mais pobres deixaram de aceder a consultas ou tratamentos. a revelação é do Relatório do Observatório Português dos Sistemas de Saúde que foi apresentado quarta-feira passada
Devido às dificuldades económicas 20% dos mais pobres deixaram de aceder a consultas ou tratamentos. a revelação é do Relatório do Observatório Português dos Sistemas de Saúde que foi apresentado quarta-feira passadaQuanto mais doente mais pobre, e quanto mais pobre mais doente. a doença e a pobreza andam de mãos dadas e, na altura de aceder a cuidados de saúde, o caminho é mais difícil e demorado para quem tem rendimentos mais baixos. Este é um dos principais alertas deixado no Relatório Primavera 2017, do Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS). O relatório diz que o acesso a serviços como consultas de especialidade ou de medicina dentária tem uma relação directa com os ordenados das famílias.

Não existem apenas limitações fortes no acesso, como também estas limitações afectam de forma desproporcional os mais pobres, refere o relatório. José aranda da Silva, um dos responsáveis do documento, explica que os dados dizem respeito ao acesso tanto ao Serviço Nacional de Saúde (SNS) como a privados. No entanto, lembra que a grande maioria dos serviços ainda são públicos. Regra geral, as pessoas com mais rendimentos sabem mexer-se melhor no SNS e conseguem consultas e tratamentos mais rapidamente. E quando não conseguem têm mais frequentemente seguros privados ou mesmo aDSE. Os pobres têm mais problemas tanto no acesso como na própria utilização do SNS, diz.

O documento agora conhecido indica que para se manterem saudáveis, os portugueses têm de pagar mais do que a maioria dos europeus. Destaca ainda que a percentagem do financiamento público dos cuidados de saúde prestados à população portuguesa (66,0%) tornou-se em 2014 das mais baixas da Europa, com os portugueses a estarem entre os que mais pagam directamente do seu bolso quando precisam de cuidados de saúde, nomeadamente em medicamentos. O peso dos gastos privados é o principal factor de agravamento da desigualdade, adiantam os responsáveis. aranda da Silva lembra ainda que em Portugal o investimento na saúde durante os anos de crise diminuiu, ao contrário do que outros países europeus fizeram.

O Observatório faz algumas recomendações para melhorar o SNS. Defende a criação de orçamentos plurianuais que permitam uma visão de médio prazo e revertam o subfinanciamento crónico. Sugere ainda um modelo de financiamento dos hospitaisnão apenas centrado em indicadores quantitativos de volume, mas dando maior relevância a indicadores de qualidade e de avaliação dos resultados obtidos. acrescenta que são urgentes medidas que combatam todas as formas de desigualdade que ainda persistem no acesso aos cuidados de saúde, sobretudo entre os mais carenciados, com particular destaque para as áreas de saúde mental, oral e medicamentos.
a saúde é um direito elementar para qualquer ser humano. Todas as pessoas devem ter acesso aos cuidados básicos, especialmente os mais vulneráveis economicamente. É necessário uma maior sensibilidade dos diversos responsáveis, sob pena de estarem a criar uma maior injustiça para aqueles que já são injustiçados pela vida.