Francisco foi peremptório: «Não é justo dizer que o Islão é terrorista». E fez uma comparação: «Se falo de violência islâmica, também tenho de falar da violência cristã». Mas o terrorismo é uma realidade pungente
Francisco foi peremptório: «Não é justo dizer que o Islão é terrorista». E fez uma comparação: «Se falo de violência islâmica, também tenho de falar da violência cristã». Mas o terrorismo é uma realidade pungenteas afirmações do Papa foram produzidas durante o voo de regresso a Itália, após quatro dias na Polónia a presidir às Jornadas Mundiais da Juventude, em agosto do ano passado. O líder da Igreja católica defende que os muçulmanos não são todos violentos. O autoproclamado Estado Islâmico, esse sim, é que se apresenta como violento.
Uma coisa é verdade: em quase todas as religiões há sempre um pequeno grupo fundamentalista. Também nós os temos, disse o Papa Francisco. Todos os dias, quando abro os jornais, vejo violência em Itália, alguém que mata a namorada, outro que mata a sogra. E são católicos baptizados. Se falo de violência islâmica, também tenho de falar da violência cristã, fundamentou.

Francisco foi ainda mais concreto ao sublinhar que o terrorismo é muitas vezes consequência da falta de ideais dos jovens europeus. Quantos entre os nossos jovens europeus é que abandonámos, sem ideais, sem trabalho. Eles voltam-se para as drogas, para o álcool, e vão mais longe e juntam-se a grupos fundamentalistas, lamentou o Papa.
Quando se põe no centro da economia mundial o deus dinheiro, não o homem e a mulher, isto é já um primeiro terrorismo, considerou o Papa, acrescentando que podemos matar tanto com a língua, como com uma faca.

Como é evidente esta posição do Papa é bem recebida pelos responsáveis do Islão, como foi o caso do grande aiatola Naser Makarem Shirazi, do Irão, que enviou uma carta ao Papa Francisco a agradecer as suas declarações sobre a necessidade de dissociar o Islão do terrorismo.
as suas sábias e lógicas considerações sobre o Islão, que desassociam a religião das acções desumanas e das atrocidades perpetradas por seitas ímpias (takfiri) como o Daesh são realmente admiráveis, escreveu o líder religioso xiita, numa missiva que na ocasião foi divulgada pela Rádio Vaticano.

as afirmações do Papa, assim como de outros responsáveis do Islão, terão que ser entendidas tomando em linha de conta o aspecto didáctico, uma leitura evangélica, ou se quisermos da Bíblia e do alcorão aos quais as religiões vão beber os ensinamentos.
Contudo, o terrorismo dito islâmico tem a outra vertente, a da bestialidade, que é alimentada por países que seguem o Islão, e apoiam directa ou indirectamente os autores da barbárie. Estes países pretendem impor e alargar a sua hegemonia sobre o mundo, o que poderá levar-nos a um choque de culturas com consequências imprevisíveis.
Seguindo a mesma linha de raciocínio, também há países ocidentais que beneficiam directamente dessas guerras com o fornecimento de armamento aos países do Médio Oriente. Veja-se o caso recente da visita de Donald Trump, presidente dos USa, à arábia Saudita onde assinou um contracto para a venda de armamento no valor de 110 mil milhões de dólares. Portanto os países ocidentais também têm as mãos manchadas de sangue inocente. Será bom reflectir nisso.

O caso concreto da arábia Saudita é uma monarquia medieval, onde são espezinhados os mais elementares direitos humanos, exercendo uma intolerância contra outras religiões e formas de pensar diferentes. São desconhecidos neste país templos católicos, budistas ou hinduístas, embora lá trabalhem milhares de estrangeiros. Sobre os direitos das mulheres e das minorias sexuais, estes nem sequer são admitidos. Mas todos os dirigentes mundiais querem manter boas relações com os príncipes sauditas na esperança de que lhes caia da mesa algumas migalhas, ou antes, alguns negócios chorudos.
Perante esta vil realidade, há muitos cépticos em relação à paz que personalidades responsáveis e países dizem pretender, dado que numa mão acenam com um ramo de oliveira e com a outra recebem os benefícios da guerra.