Não deverí­amos esquecer que Fátima, exatamente por ser uma cidade-santuário, é mais escrutinada que qualquer outra cidade do país. Tem em si mesma uma responsabilidade moral acrescida.
Não deverí­amos esquecer que Fátima, exatamente por ser uma cidade-santuário, é mais escrutinada que qualquer outra cidade do país. Tem em si mesma uma responsabilidade moral acrescida. Fátima tem apontados sobre si todos os focos mediáticos. O Centenário das aparições e a visita do Papa Francisco a este santuário mariano são fortes motivos de atenção. Cem anos é uma data redonda e há que fazer memória, celebrar, atualizar. E que o Papa mais popular das últimas décadas venha à Cova da Iria neste ano tão icónico, é ouro sobre azul. anda tudo num frenesim. Tudo mexe no que toca às temáticas relacionadas com os acontecimentos de Fátima. as livrarias enchem-se de novos títulos. São mesmo muitos e para todos os gostos. Há também as exposições temporárias nos museus, peças teatrais, bailados e musicais já nos palcos. E há os filmes, séries e documentários prontos a estrear ou em produção. Gosto especialmente dos hinos. Tanto o hino que assinala o Centenário, como o hino para a vinda do Papa, ambos já divulgados, agradam. Ficam no ouvido, têm boas letras e boas melodias e – talvez o mais importante -, por não serem eruditos, são cantáveis. Concordarão: não há nada melhor para um determinado evento que um bom hino que o eternize, anos afora, no cantar das gentes. Por fim, duas notas sobre Fátima, a cidade. Também ela se prepara. Mas deixa algo a desejar. Do alto do Seminário da Consolata, até onde a vista alcança, contei umas 15 gruas no horizonte da Cova da Iria. Desde os anos antes da crise que não via tantas, por aqui. Tendo em conta que a cidade é pequena, em território e habitantes (cerca de 12 mil), estes símbolos das obras chamam de facto a atenção. Gruas para um centenário! Podem ser a metáfora de, mais do que de uma cidade, de uma identidade ainda em construção. Contudo, o que gera mesmo mal-estar são os preços na hotelaria. Uns dirão que é o mercado a funcionar: quando a procura supera a oferta os preços tendem a subir. Mas é bom lembrar que o diabo está nos detalhes. Neste caso, na especulação. E não deveríamos esquecer que Fátima, exatamente por ser uma cidade-santuário, é mais escrutinada que qualquer outra cidade do país. Tem em si mesma uma responsabilidade moral acrescida. Fátima tem um certo magnetismo espiritual, que se traduz na força de um santuário para atrair devotos, e que outros santuários marianos não têm. E era bom que nada nem ninguém fizesse que isso se perdesse.