Nesta parte da entrevista o padre Carlos Cabecinhas fala das várias iniciativas relacionadas com Centenário das aparições e rebate os críticos que acusam o Santuário de promover exposições e eventos para elites culturais
Nesta parte da entrevista o padre Carlos Cabecinhas fala das várias iniciativas relacionadas com Centenário das aparições e rebate os críticos que acusam o Santuário de promover exposições e eventos para elites culturaisO itinerário de preparação do Centenário das aparições foi iniciado há sete anos. Que iniciativas mais destacaria, algumas já realizadas, outras em curso e outras previstas, como o Congresso Internacional, em junho? Eu diria que tivemos um conjunto de iniciativas particularmente exigentes e audaciosas. Quer pelo número, quer pela qualidade dessas iniciativas. Por um lado, a nível de aprofundamento da Mensagem de Fátima, tivemos em cada ano um simpósio teológico-pastoral, que nos ajudou a aprofundar a mensagem a partir do tema do ano. E estes simpósios vão ter o seu coroamento precisamente no grande Congresso Internacional que terá lugar em Fátima, no próximo mês de junho. ainda a este nível tivemos, albergámos, fomos co-organizadores do grande Congresso Eucarístico Nacional.como também do Congresso da Pontifícia academia Mariana Internacional, uma instituição do Vaticano, que se dedica ao estudo de Maria e da Mariologia e da devoção mariana. Tivemos também um conjunto de cursos sobre a Mensagem de Fátima, que já tiveram mais de uma dezena de edições e que têm mantido sempre um nível elevado de adesão. Temos procurado manter o número de catequeses àqueles que nos pedem sobre a Mensagem de Fátima e que ajudam a conhecer mais essa mensagem. a outro nível, procurámos com a linguagem das artes falar de Fátima. através das exposições temporárias que em cada ano vão abordando o tema específico desse mesmo ano e a aparição que está na sua origem, espetáculos de dança e multimédia, espetáculos como o musical, concertos do mais variado tipo de música, que procuraram falar de Fátima por outras linguagens, por linguagens renovadas e para públicos plurais, que habitualmente não são sensíveis a Fátima. Procurando que a mensagem chegue não apenas àquele que é o peregrino habitual, mas sem esquecer este peregrino habitual que possa ir mais além. Há uma certa crítica que tende a acusar o santuário de promover estas iniciativas mais viradas para a elite intelectual, cultural, teológica Esqueceram-se do povo? De forma alguma. Se nós temos um conjunto de concertos de música erudita e que, obviamente, não serão em termos de sensibilidade para o público em geral, para o nosso peregrino em geral, basta pensar nos espetáculos musical, multimédia e de dança, que eram claramente espetáculos populares, dedicados a todo o peregrino, a todo o povo de Deus. aliás, recordo que o musical teve quatro sessões no Centro Pastoral Paulo VI, no grande auditório com capacidade para duas mil pessoas, que esteve sempre esgotado. E que agora vai iniciar também um périplo pelo país, com espetáculos quer em Lisboa, quer no Porto, mas também noutras dioceses. Significa que nós não esquecemos nunca aquele que é o nosso peregrino habitual. E temo-lo sempre presente. Procuramos, sem dúvida, tocar também outros que de outra forma são menos sensíveis, nunca esquecendo e nunca deixando de parte aquele que é o nosso peregrino habitual. Por outro lado, gostaria de dizer que se estas são formas de levarmos a Mensagem de Fátima mais longe, também não temos a mínima dúvida que as principais ações do santuário continuam a ser as peregrinações, e nesse sentido, este ano de 2017, é o coroar de toda esta caminhada. São o conjunto das grandes peregrinações jubilares, que as dioceses, que os movimentos, que as famílias religiosas, que as nações organizam ao Santuário de Fátima. Esse é o grande momento, é o momento culminante. E aos peregrinos que vêm, a todo o peregrino que vem, nós propomos sempre um itinerário. Um itinerário do peregrino, um itinerário espiritual que é também físico por vários espaços do santuário, para o ajudar a perceber a grande experiência, a profundidade da experiência de Fátima. Isso é que nos interessa. É isso que está no nosso horizonte. Convive bem com as críticas em relação a Fátima, por vezes até de setores da própria Igreja? O santuário sempre teve de se defrontar com uma pluralidade mesmo intra-eclesial de opiniões divergentes. Recordo que desde o início das aparições, nós encontrámos mesmo no seio da própria Igreja resistências a Fátima, e hoje isso mesmo se verifica. Para Fátima, para nós, para o santuário, isso não é uma dificuldade. Bem pelo contrário, eu entendo que é um enriquecimento podermos ter perspetivas diversas sobre Fátima. a unanimidade, mesmo a nível eclesial, seria um empobrecimento. Fátima é uma cidade-santuário. a administração central e o poder local têm dado a Fátima a atenção que merece? Essa é uma questão delicada. Nós, enquanto santuário, achamos sempre que é possível fazer mais. E procuramos ser sempre desafio à própria autarquia no sentido de procurar fazer mais para o acolhimento dos peregrinos. Mas temos também consciência daquilo que são os limites com que o próprio poder autárquico se vê defrontado e por isso compreendemos que nem sempre se possa fazer muito mais.