a Cáritas Diocesana de Lisboa, instituição criada pela Igreja Católica para ajudar pessoas carenciadas na capital, está a ser investigada pelo Ministério Público, em resultado de uma denúncia contra dirigentes
a Cáritas Diocesana de Lisboa, instituição criada pela Igreja Católica para ajudar pessoas carenciadas na capital, está a ser investigada pelo Ministério Público, em resultado de uma denúncia contra dirigentes a Igreja, como qualquer outra personalidade colectiva ou individual, deve revelar transparência total no uso e gestão dos bens que possui e movimenta. Tendo em conta que é uma instituição que protagoniza e prega valores doutrinais e morais, sendo aceite como exemplo de virtudes, terá de corresponder a essa classificação, quiçá correta.
a organização da Cáritas Portuguesa, instituição criada pela Igreja Católica – são 20 filiadas espalhadas por todo o país – tem um trabalho exemplar em prol dos mais carenciados, isso mesmo constatamos no dia-a-dia. Em nome dessa exemplaridade não pode haver dúvidas quanto à sua transparência de contas.

Nas notícias tornadas públicas no passado dia 9 surgiram alguns pormenores, que a serem verdade, poderão gerar preocupação, dado que apontam para uma gestão menos cuidadosa no que ao seu cariz social diz respeito. Há dois pormenores que sobressaem. O primeiro diz respeito à existência de 2,1 milhões de euros retidos no banco, há pelo menos uma década, e cerca de 320 mil euros investidos em obrigações. a direcção da instituição justifica esta almofada financeira com a necessidade de acautelar o agravamento da crise económica e social. O segundo exemplo é que em 2014, gastou 147 mil euros na ajuda aos mais carenciados – sendo que apenas 11 mil euros dizem respeito a ajudas directas -, tendo acumulado, em igual período de tempo, 325 mil euros em donativos particulares.
O jornal Público refere que os dados fornecidos no relatório de actividades de 2014, publicado no site da Cáritas Diocesana de Lisboa (CDL) em Março de 2016, não coincidem com aqueles disponibilizados pelo Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (MTSSS).

a Cáritas de Lisboa tem como missão fundamental intervir na ajuda a pessoas que se encontrem em situações graves de pobreza e exclusão social. E é com esse objectivo que a instituição, sob escrutínio judicial desde o mês passado, altura em que o Ministério Público instaurou um inquérito ao seu funcionamento, apela há anos à generosidade dos cidadãos. Feito o donativo, bem pode, porém, o benfeitor tentar perceber o que é que a CDL faz com o fruto dos peditórios, ofertório, doações e legados que recebe regularmente.
Perante esta situação é de esperar que os responsáveis da mesma se expliquem perante o público, para que não restem dúvidas sobre a seriedade da gestão. Notícias posteriores indicam que também a Cáritas de Coimbra e Setúbal possuem esse tipo de almofada financeira, o que indicia uma prática comum, e que convém esclarecer.

as instituições e organizações tuteladas pela Igreja não se devem eximir à prestação de contas, mesmo publicamente, para que os católicos tomem conhecimento das mesmas. Dado a natureza de algumas não é necessário essa apresentação pública, mas é conveniente e atesta a seriedade de quem as dirige. E este procedimento deve ser seguido principalmente pelas instituições que recebem donativos dos cidadãos, permitindo que estes e todos os restantes conheçam a forma como são aplicadas as suas doações.
O Papa Francisco referiu em declarações públicas a importância da Igreja Católica gerir cuidadosamente os seus bens. tendo especialmente em atenção os mais necessitados. Francisco referia-se ágestão das várias instituições financeiras do Vaticano, mas certamente que isso vale para todas as outras. Os mais necessitados, na citação do Papa, têm direito a uma gestão eficaz e digna do cariz social que a Igreja deve representar. É uma questão de caridade cristã.