O Papa Francisco disse, na homilia da missa celebrada na Capela de Santa Marta sexta-feira passada, que o verdadeiro jejum agradável a Deus é «o coração penitente» ” diz o Salmo ” «o coração que se sente pecador e sabe ser pecador»
O Papa Francisco disse, na homilia da missa celebrada na Capela de Santa Marta sexta-feira passada, que o verdadeiro jejum agradável a Deus é «o coração penitente» ” diz o Salmo ” «o coração que se sente pecador e sabe ser pecador»O Papa, aproveitando as leituras do dia, clarificou que o verdadeiro jejum é socorrer o próximo, pois o jejum falso mistura religiosidade com o negócio sujo e os subornos da vaidade. Deus repreende a falsa religiosidade dos hipócritas que jejuam enquanto cuidam dos próprios negócios, oprimem os operários e lutam ferindo com punhos iníquos, referiu Francisco, citando o texto tirado do Livro do Profeta Isaías. Por um lado fazem penitência e por outro cometem injustiças, fazendo negócios sujos.
O Senhor, ao contrário, pede um jejum verdadeiro, atento ao próximo: O outro é o jejum hipócrita – é a palavra que Jesus tanto usa – é um jejum para se mostrar ou para sentir-se justo, mas ao mesmo tempo cometem injustiças, não são justos, exploram as pessoas. Mas eu sou generoso, farei uma bela oferta à Igreja – Mas me diga, tu pagas o justo salário às tuas domésticas? Pagas os teus funcionários sem assinar a carteira? Ou como quer a lei, para que possam dar de comer aos seus filhos?.

Francisco lembrou que quando o Senhor fala aos hipócritas sobre o jejum verdadeiro, essas palavras também têm significado para os nossos dias: Não é este o jejum que escolhi: quebrar as cadeias injustas, desligar as amarras do jugo, tornar livres os que estão detidos, e romper todo tipo de sujeição? Não consiste talvez em dividir o pão com o faminto, deixar entrar em casa os pobres, os sem-abrigo, vestir o que está nu sem transcurar os próprios parentes? Pensemos nestas palavras, pensemos em nosso coração, como nós jejuamos, rezamos, damos esmolas. Nos ajudará também a pensar: o que sente um homem depois de um jantar, que custou 200 euros, por exemplo, e volta para casa, vê um faminto, não olha para ele e continua caminhando? Nos fará bem pensar nisso.

a Igreja recorda-nos que a quaresma é o tempo que precede e dispõe à celebração da Páscoa, daí ser um tempo de escuta da palavra de Deus e de conversão, de preparação e de memória do Baptismo, de reconciliação com Deus e com os irmãos, de recurso mais frequente às armas da penitência cristã: a oração, o jejum e a esmola (ver MT 6,1-6. 16-18).
a quaresma é um tempo privilegiado para intensificar o caminho da própria conversão. Este caminho supõe cooperar com a graça, para dar morte ao homem velho que está em nós. Trata-se de romper com o pecado que habita em nossos corações, nos afastar de todo aquilo que nos separa do plano de Deus, e por conseguinte, de nossa felicidade e realização pessoal. É desta forma que devemos sentir e viver este período quaresmal de 40 dias, para estarmos devidamente preparados para celebrar a Ressurreição de Cristo, o grande motivo da nossa fé.

ao acentuar que o verdadeiro jejum está em ajudar o próximo, o Papapretenderá conciliar concretamente o sentido do primeiro mandamento: amarás ao Senhor teu Deus acima de tudo e ao próximo como a ti mesmo com a vida de cada um de nós. Se Francisco assume que o jejum é socorrer o semelhante está a valorizar também outro tipo de acções para além da especificidade que a Igreja recomenda, ou seja, sobrepõe a individualidade das nossas acções penitenciais para a assistência ao irmão mais carente.
Quer isso dizer que o jejum, tal como a Igreja o recomendava, poderá ser concretizado de uma forma mais realista em favor do próximo, sem deixar de ter a privação individual também como objecto de reparação. Esta interpretação que fazemos é consequência da forma muito própria que este Papa adoptou para evangelizar. Insere-se perfeitamente na prática de qualquer cristão, é mais inovador, mais terra a terra, sem perder de vista a vida eterna.