«Os católicos e a democracia: um testemunho». Foi este o tema da conferência do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, no ciclo de conferências «Nova ígora» promovido pela arquidiocese de Braga
«Os católicos e a democracia: um testemunho». Foi este o tema da conferência do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, no ciclo de conferências «Nova ígora» promovido pela arquidiocese de BragaMarcelo Rebelo de Sousa fez uma apresentação sobre a participação dos católicos na construção do regime democrático, lembrando que, antes da democracia, o Estado e Igreja Católica aprenderam com duas lições: por um lado o confronto que marcou a Primeira República e, por outro, a dependência excessiva que se seguiu ao regime concordatário de 1940.
a conferência do Presidente da República teve lugar s4exta feira passada na abertura da 3a edição do ciclo de conferências Nova Ágora, ocorrida no auditório Vita, em Braga. O presidente abordou o papel dos católicos ao longo das últimas décadas, mas também da Igreja Católica.

Ficou-nos na retina as palavras do professor quando salientou que o núcleo duro da democracia portuguesa, que ainda hoje corresponde a um sistema partidário dos mais estáveis da Europa, tinha como uma das componentes, não a única, o pensamento católico social, repartido por vários partidos. Referia-se, como é óbvio, à democracia instituída após o 25 de abril de 1974.
Recordando esses tempos disse: Nos debates intensos na revolução e, no meio da revolução, na Constituinte, estávamos lá muitos que tínhamos essa inspiração católica, repartidos por várias bancadas, e que, de alguma maneira, testemunhámos num debate muito intenso e muito radicalizado alguns traços da inspiração cristã.

Marcelo Rebelo de Sousa referiu ainda que a Igreja Católica constitui hoje um factor de integração e de inclusão social, nas suas posições em relação aos migrantes, aos refugiados, e é um factor de contenção do que se tem chamado movimentos populistas, existentes noutras sociedades.
O PR citou ainda como exemplo, a ideia do personalismo cristão, da dignidade da pessoa, a listagem de direitos fundamentais, o civilismo, a defesa da liberdade de ensino, da descentralização, do europeísmo e a capacidade ampla para a inclusão social, para a democracia social. Tudo isto não é monopólio do pensamento católico, mas tem forte influência do pensamento católico, disse.

Um dos momentos mais importantes da sessão deu-se durante as respostas de MRS às perguntas dos presentes, espaço em que demonstrou mais à vontade, mas menos segurança perante as questões levantadas.
algumas perguntas, roçando a perspectiva pessoal do presidente sobre casos mediáticos, tiveram respostas mais vagas, alegando o professor que enquanto PR deveria ser mais cauteloso.
Contudo, exortou os católicos à intervenção pública, porque mais vale intervir em excesso cometendo erros a não intervir. E, cingindo-se ao debate em curso sobre a eutanásia, afirmou que defende um debate longo, sério, exaustivo sobre a matéria, mas que só intervém no momento oportuno.

Fazendo uma análise sucinta da presença de Marcelo Rebelo de Sousa neste evento, fica um resumo bastante criterioso da democracia gerada após o 25 de abril, embora não tenha sido dado a ênfase adequada à apropriação da democracia a que os partidos políticos se arrogaram. Sendo este um dos males da nossa democracia, neste momento, foi pena que o PR não tenha posto o acento tónico na questão.
Por outro lado, foi muito positivo o apelo para que os católicos não se desmarquem da vida política. Infelizmente muitos pecam pela ausência, permitindo desta forma que os outros resolvam por eles. O aviso deixado por Marcelo Rebelo de Sousanesse sentido deve fazer pensar e sensibilizar os cristãos a inverter esta tendência de afastamento, levando-os a uma participação mais activa na vida política nacional.