a religiosidade popular esteve em destaque nas jornadas de formação do clero das dioceses do sul, que se realizou de 16 a 19 deste mês, tendo como tema «Levar Cristo às periferias humanas e existenciais: os novos areópagos»
a religiosidade popular esteve em destaque nas jornadas de formação do clero das dioceses do sul, que se realizou de 16 a 19 deste mês, tendo como tema «Levar Cristo às periferias humanas e existenciais: os novos areópagos»O Reitor do Santuário de Vila Viçosa, padre Francisco Couto, disse ao clero do sul – em Portimão – que é preciso purificar a piedade popular. a Igreja nunca rejeitou esta prática. agora pede-se é que a purifiquemos, enunciou o Reitor na actualização do clero das dioceses do algarve, Beja, Évora e Setúbal.
ao abordar a dimensão da religiosidade popular na segunda de duas mesas redondas que procuraram apontar as Áreas prioritárias na acção Pastoral da Igreja, o orador considerou aquela necessidade como uma oportunidade de cuidar. aqui (nas manifestações de religiosidade popular) encontramos as pessoas, talvez como já não encontramos nas nossas comunidades. Tal mudança da acção pastoral de que temos falado poderá encaixar e também encontrar aqui o seu lugar, afirmou.

Citando um directório da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos sobre o tema, o padre Francisco Couto lembrou que liturgia e piedade popular são duas expressões legítimas do culto cristão, embora não homologadas. Não devem ser contrapostas nem equiparadas, mas sim harmonizadas. Liturgia e piedade popular são duas expressões cultuais que se devem pôr em mútuo e profundo contacto. O caminho para resolver o motivo de desequilíbrio ou de tensão entre liturgia e piedade popular é o da formação do clero e dos leigos, acentuou.
Daquele documento da Santa Sé, enumerou ainda os critérios e indicações de áreas a tentar cuidar. O primado da liturgia, a linguagem verbal e gestual, textos e fórmulas, as imagens sagradas, a superação do hibridismo, a concorrência e contraposição naquilo que são as acções litúrgicas foram os aspectos apontados.

a religiosidade popular opõe-se um bocadinho ao abstracto e procura ter elementos concretos a celebrar, vivenciar e experienciar. Considerou importante e necessário conhecer melhor as manifestações da piedade popular, sob pena de se perder a sua matriz cristã e evangélica e elas degenerarem em mera curiosidade etnográfica ou folclórica.
Neste sentido desafiou a conhecer melhor, apreciar os seus valores, corrigir com tolerante paciência eventuais desvios, inspirar a sua renovação, pondo-as mais em contacto com a palavra de Deus e articulando-as melhor com a liturgia da Igreja, recordando práticas originárias da piedade popular que passaram a oração da Igreja como o angelus, o rosário, a via-sacra ou a Regina coeli.

O padre Francisco Couto apontou as grandes características da piedade popular que podem ser trabalhadas, purificadas e orientadas, a relação entre religião e tradição, entre religião e sentimento, entre religião e moral e entre religião e esperança.
Lamentou encontrar manifestações de piedade ou religiosidade que parecem entrar em conflito com a proposta celebrativa e vivencial da fé cristã, embora destacando que o movimento litúrgico e a reforma litúrgica puseram termo a um divórcio secular entre a liturgia e a vida cristã. O orador recordou que os primeiros anos da recepção do segundo concílio do Vaticano foram marcados por um certo neo-iluminismo racionalista.

Viveu-se uma espécie de purificação do espaço Igreja, exemplo a retirada de muitas imagens de santos, mas também as devoções e as práticas derivadas da piedade e da religiosidade popular foram questionadas, marginalizadas e frequentemente suprimidas em nome da promoção de uma liturgia renovada e pura. Suprimiram-se procissões, devoções, usos de sacramentais e hoje algumas paróquias não têm nada ou têm muito pouco. Considerou que se criou um certo vazio. Evangelizar, purificar, renovar com sabedoria, prudência, paciência e persistência teria dado muito mais trabalho do que suprimir, mas não teríamos acumulado um passivo tão preocupante, afirmou, citando o padre João da Silva Peixoto. O Reitor deixou assim os exemplos necessários e os alertas prementes para uma vivência da religiosidade popular mais genuína e cristã.