Na licenciatura, onde quis Joana mãe especializar-se? Numa escola, a ajudar crianças a serem mais felizes. E o sucesso foi brutal

Na licenciatura, onde quis Joana mãe especializar-se? Numa escola, a ajudar crianças a serem mais felizes. E o sucesso foi brutal
Joana era conhecida na turma como a Joana mãe. Engravidou do seu quinto filho depois de iniciar a licenciatura que atrasou até momentos mais livres. Toda ela era sorrisos, olhar terno, aconchego, colo. Trabalhar com ela significava organização, rigor e alegria. Tudo parecia fácil e possível. Num fim de dia, recebeu-me na sua casa para trabalho de grupo: grávida e com outros quatro filhos, ainda encontrava espaço e tempo para os amigos. E tudo estava em ordem. ao entrar em casa, em frente, a sala comum, espaçosa. Uma mesa grande ocupava o centro. Tudo ali cheirava a família: fotos, muitas fotos, obras de arte feitas pelas crianças, mobília para vários tamanhos. No corredor, a ala das crianças, feita de três quartos: num, quatro camas e quatro mesas de cabeceira de diferentes tamanhos; noutro, o escritório, com estantes, três secretárias e uma mesinha de criança para o Zézito de três anitos que gostava de estudar ao lado dos irmãos; e um quarto de brincadeira, com almofadões coloridos, brinquedos e jogos. Parecia estar-se numa história encantada, alice no País das Maravilhas!Na outra dimensão da casa, a cozinha e o setor dos pais. Quando chegámos, a dona augusta que vinha um dia por semana a casa para ajudar a que nada se perdesse e que todos tinham o necessário, usava a grande mesa da sala para converter roupas, cozer bainhas, colocar joelheiras, cotoveleiras. – Mãe, cheguei!- até logo, mãe!Lá em casa este era um rodopio habitual. E todos eram recarregados com um imenso sorriso e um abraço aconchegante da mãe Joana, enquanto fazia as recomendações obrigatórias. Na licenciatura, onde quis Joana mãe especializar-se? Numa escola, a ajudar crianças a serem mais felizes. E o sucesso foi brutal!Queixas? Nunca! Nem mesmo quando não dormia para socorrer na febre, na tosse, no pesadelo, ou quando passava todo o dia no hospital a acompanhar o Simão nas suas crises renais, ou ainda quando prolongava a noite a estudar. O curso terminou, passaram 28 anos e perdemos o contacto. Há dias, uma surpresa extraordinária: no telemóvel, um número desconhecido. Do outro lado, uma gargalhada feita de alegria, inconfundível:- Joana mãe! Incrível! Que alegria! Como me descobriste?ao longe, tornado perto pela amizade que não se desatualiza, consegui sentir a minha amiga, feliz e realizada. Pôs à prova o meu sentido de adivinhação:- adivinha quantos netos tenho. – Sete, disse eu, atirando um número que me pareceu seguro. – Dezassete, graças a Deus! É uma bênção! agora estou dedicada a ser avó! ainda tenho um dia livre para fazer voluntariado na instituição onde trabalhava. Não consigo desapegar-me daquelas crianças. O Rui pai, também reformado, apanhou o gosto do voluntariado num lar de idosos. a gargalhada genuína falava da felicidade da Joana mãe, e agora, também Joana avó, iluminada por uma vida de mãos cheias, a amar sem medida. – Espero-te cá em casa. Ficas conosco mesmo que a tropa esteja cá acampada – e com aquela alegria de quem constrói e distribui o céu no caminho, desligou, deixando-me de coração cheio, com vontade de viver, eu também, o céu dentro de mim.