a partir de uma quinta no Cacém, jovens de várias nacionalidades ajudam os portugueses enquanto rumam ao sacerdócio
a partir de uma quinta no Cacém, jovens de várias nacionalidades ajudam os portugueses enquanto rumam ao sacerdócioCinco jovens, oriundos do Uganda, Tanzânia, Quénia, Brasil e Colômbia, estão em Portugal a dar o seu contributo em hortas comunitárias, a apoiar escuteiros, a aconselhar e a animar adolescentes, a estudar, a trabalhar e a rezar. Todas estas atividades são parte de um percurso que os tornará sacerdotes. O noviciado e os primeiros votos já estão feitos. agora é tempo de fazer a licenciatura e mestrado integrado em Teologia. No horizonte têm em vista a profissão perpétua, o diaconado e a ordenação sacerdotal. O projeto em que estão inseridos é denominado como Comunidade apostólica Formativa e iniciou pela primeira vez em Portugal este ano letivo, no Centro Missionário Padre Paulino, espaço também conhecido como Quinta do Castelo, localizado no Cacém, em Lisboa, e propriedade dos Missionários da Consolata. É dirigido pelo italiano Ermanno Savarino, de 39 anos, e pelo queniano Bernard Obiero, de 33, ambos missionários da Consolata. O sacerdote europeu identifica o projeto como um pequeno seminário. a diferença entre os grandes seminários e este, é que aqui há poucas pessoas. a ideia é que sendo menos pessoas, seja um pouco mais fácil viver a dimensão fraterna. Por sua vez, o missionário africano destaca o ambiente pastoral e social vivido por um grupo que é multicultural. a variedade de culturas é apenas um dos benefícios que os jovens identificam. É muito importante e bonito poder partilhar isto com pessoas de nacionalidades distintas. aqui posso conhecer a cultura deles dentro de um país e de uma cultura que não é a nossa, exemplificou o colombiano Carlos andrea Erazo Giraldo, de 24 anos. Para o queniano David Murimi, é a possibilidade de fazer a sua formação, estando ao mesmo tempo em missão, que tanto lhe agrada. Estamos a preparar-nos para ser padres e aqui estamos todos os dias em missão porque a comunidade formativa está inserida na missão, realçou o jovem de 25 anos. Já a natureza e os seus sons, tão característicos do local, são especialmente valorizados pelo ugandês Malunga Francis, de 28 anos. Este é um lugar muito grande, com árvores e paisagens muito bonitas. Quando eu rezo junto da natureza sinto-me muito tranquilo, contou. O tanzaniano Delphinus Kalatunga, de 26 anos, pensa já na mais valia que este projeto representa para o seu futuro. acho esta formação muito boa para seguir o caminho do sacerdócio, disse. a vida comunitária é o elemento que mais cativa Leandro Baseggio. a partir do momento em que vivo em comunidade, não é só a minha vontade que conta, mas é a vontade do David, do Delphinus, do Carlos e do Francis, e eu tenho de passar a respeitar isso. Numa sociedade onde se procura muito a individualidade, na vida comunitária deixamos de exercer um pouco essa individualidade para sermos mais irmãos. acho que são coisas que hoje chocam um bocadinho, mas que nos fazem também repensar nos valores de tudo isto. Hoje mostramos que ainda é possível viver com autenticidade os votos de pobreza, castidade e obediência, frisou o brasileiro de 26 anos. a solidariedade é uma prática diária no local. Na residência dos Missionários da Consolata, à hora das refeições, todos se sentam à mesma mesa: sacerdotes, seminaristas, cozinheiras e restantes trabalhadores. Entre os que moram no espaço há quem lute por se reintegrar na sociedade. Vive connosco uma pessoa que enfrentou problemas de dependência de álcool. Quer combater esse problema, mas não tem habitação própria nem laços familiares. Por isso, partilha connosco a casa e a mesa. Oferece-nos a sua ajuda, restabeleceu já os contactos com os serviços sociais e está a fazer o seu percurso de recuperação, explicou Ermanno Savarino. Para o missionário italiano, este é um exemplo real de missão. acreditamos que é fundamental para uma comunidade a abertura real aos pobres e aos últimos. a presença na nossa mesa de um pobre é uma riqueza. Tentamos fazer o pouco que podemos, mas estamos a mexer com a vida de uma pessoa com um problema real. acho que isto é a missão.