Em cada 100 casamentos, 70 acabam em divórcio. a conclusão é de um estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos (Pordata), publicado por ocasião do Dia Europeu da Estatí­stica em 20 de outubro
Em cada 100 casamentos, 70 acabam em divórcio. a conclusão é de um estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos (Pordata), publicado por ocasião do Dia Europeu da Estatí­stica em 20 de outubroNo estudo Retrato de Portugal na Europa, publicado pelo Pordata, Portugal surge em primeiro lugar da lista no que diz respeito a casamentos que findam em divórcio, comparando com os outros países europeus. É preciso explicar o que significa que70 em cada 100 casamentos acabam em divórcio. a diretora do Pordata, Maria João Valente Rosa, explicou ao jornal Público: aqui conjugam-se casamentos do passado que resultam em divórcio no presente e casamentos que se fazem no presente, que são cada vez menos. O casamento deixou, assim, de ser uma forma de institucionalização da relação perante a sociedade e deixou de marcar o início de um projeto de parentalidade, como refere a responsável. Por outras palavras, o casamento perdeu a sua carga institucional de tradição e, simultaneamente, deixou de marcar o princípio de um projecto para toda a vida.

a diretora do Pordata diz ainda que é expectável que o número de divórcios venha a diminuir, até porque há cada vez menos casamentos. Outro facto assinalável, em relação aos casamentos em Portugal, tem a ver com a diminuição do número de casamentos católicos: em 2013, houve 19 920 casamentos civis e 11 576 católicos, quando no ano 2000 se haviam registado 22 421 casamentos civis e católicos foram quase o dobro, 41 331.
Quanto a filhos, os portugueses têm cada vez menos bebés, apresentando uma média de 1,23 filhos por mulher em idade fértil, contra 1,58 da média europeia. Em 2014, 49,3 por cento dos bebés nasceram fora do casamento.

Perante a realidade actual e mantendo a Igreja a sua posição de casamento para toda a vida, o que poderá fazer mudar o conceito no sentido de minorar as consequências dos divórcios, mas sobretudo do afastamento daqueles que formam outro tipo de família?Verificamos, por exemplo, que os casamentos na sua generalidade estão a diminuir e pior ainda, há uma acentuada queda daqueles que optam por casar pela Igreja.
Sabemos que esta realidade tem muito a ver com dificuldades económicas, sobretudo nos últimos anos, mas também está subjacente a desvalorização dos valores morais que permitiam uma união intrínseca entre homem e mulher, tendo em vista também a sua transmissão.

a Igreja tem de ter resposta para os casamentos desfeitos, afirmou austen Ivereigh, autor de uma biografia de referência sobre Francisco, a propósito da exortação apostólica a alegria do amor, dando a entender ainda que a Igreja vai mudar em alguns aspectos a posição sobre o casamento católico.
Certamente que a doutrina da Igreja não mudará, dado que o objetivo central será o de reforçar o entendimento do casamento e da família num tempo em que esse entendimento está em crise total nas sociedades ocidentais. a exortação apostólica diz que o casamento é entre um homem e uma mulher, indissolúvel e aberto à criação de vida – tudo o que a Igreja sempre disse que o casamento é. Mas isto não quer dizer que não desencadeie um processo de importantes consequências a longo prazo.

Em Direito o casamento é como um contrato temporário entre quaisquer duas pessoas, sem qualquer sentido mais profundo. É seguindo esta realidade que a Igreja terá de actuar. austen Ivereigh disse: Estamos a lidar com a questão da indissolubilidade do casamento: nada pode separar o que Deus uniu. Mas a questão é também saber o que uniu Deus?.
E temos a realidade pastoral confrontada com casamentos desfeitos. Ora, a Igreja tem de ter uma resposta para a realidade dos casamentos desfeitos, sem pôr em causa a doutrina, acentuou este em entrevista concedida ao Diário de Notícias em abril passado.