Um grupo e cristãos em Jerusalém analisa os avanços e recuos provocados pelo documento conciliar Nostra aetate.
Um grupo e cristãos em Jerusalém analisa os avanços e recuos provocados pelo documento conciliar Nostra aetate. a declaração conciliar Nostra aetate, que trata das relações da Igreja Católica com as religiões não cristãs, fez 40 anos a 28 de Outubro. Nessa data, por ocasião do encerramento do ciclo das festas judaicas de Outono (Rosh Ha-Shanah, Yom Kippur, Sukkot e Simhat Torah), um grupo de cristãos em Jerusalém, interessados num melhor relacionamento entre judeus e cristãos, reflectiram sobre o significado deste documento conciliar e verificaram o caminho andado nestas quatro décadas.
O grupo começou por recordar a génese atormentada deste documento, cuja redacção foi laboriosa e agitada. E o que naquele tempo suscitou maior polémica foi precisamente o texto relativo ao judaísmo, porque mexia com posições e sensibilidades profundamente enraizadas ao longo de séculos.
além das dificuldades encontradas na confecção do texto, também não foi bem vista a sua inserção num documento cujo título mencionava as religiões não cristãs. Relegar para o mesmo nível em que se fala do islamismo, hinduísmo, budismo e outras religiões, também o judaísmo, quando se sabe que o cristianismo nasceu no seu seio como num berço e se alimenta da mesma seiva, é quase como se os cristãos negassem ou esquecessem a própria identidade.
a seguir a atenção foi para o teor do texto. Dos cinco pontos da declaração Nostra aetate, porventura o mais breve entre os documentos conciliares, o quarto número refere-se ao judaísmo. À brevidade do texto corresponde igual densidade: tanto no conteúdo como nas consequências. O assunto era muito quente e exigia já no seu arranque uma clara mudança de atitudes. E o próprio texto pede isso mesmo: uma viragem no pensamento e no comportamento.
a primeira revisão, fundamental, é exigida a nível teológico e daí descer para a catequese e a pastoral. O pensamento teológico, para se refazer, tem que prestar atenção aos dados da Escritura. Uma das consequências deste exercício há-de ser a mudança de linguagem. Há nos cristãos maneiras de pensar e de se referir aos judeus que vêm de longa tradição e têm que ser corrigidos, abandonados ou substituídos. Para chegar à mudança de comportamento prático para com o povo judeu.
Hoje, à distância de 40 anos, não é difícil constatar que foi percorrido muito caminho.começaram a cair barreiras, encetou-se o diálogo, multiplicaram-se os contactos e nasceram grupos de estudo e amizade, seja nas altas esferas seja a nível local. Gestos como as visitas do Papa à sinagoga de Roma e de Mainz e ao Muro das Lamentações são só os mais vistosos entre muitos outros sinais de aproximação. Houve mudança de clima nas relações; sobretudo sentiu-se que havia da parte católica sinceridade e vontade de diálogo.
Em jeito de avaliação da situação actual foi notado um certo desequilíbrio. Regista-se com muito agrado o progresso alcançado no campo da reflexão teológica. Há muito maior clareza quanto ao facto de a existência do povo judeu, e não só a sua religião, constituir já de per si um dado teológico que tem que ser assumido e aprofundado. Progrediu-se muito no estudo dos textos rabínicos inter e post-testamentários, o que tem ajudado a deitar luz sobre a origem do cristianismo e a sua relação com o judaísmo. Há também cada vez mais rabinos e investigadores judeus a estudarem os textos cristãos bíblicos e patrísticos.
Perante estes avanços da teologia, observa-se com alguma tristeza que a catequese e a pastoral não estão a acompanhar ao mesmo passo. Também é visível um certo afrouxamento no entusiasmo inicial e, para além de se reconhecer melhoramento na linguagem, lamenta-se a lenta e hesitante mudança nas atitudes. O encontro deixou uma nota de confiança e realismo. O que levou quase dois mil anos a construir não bastam 40 anos para o derrubar.
Em Jerusalém