Bispos portugueses divulgam nota pastoral onde reiteram a sua oposição à eventual legalização da eutanásia e propõem um diálogo «sereno e humanizador» sobre o valor da vida humana
Bispos portugueses divulgam nota pastoral onde reiteram a sua oposição à eventual legalização da eutanásia e propõem um diálogo «sereno e humanizador» sobre o valor da vida humana a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) emitiu esta segunda-feira, 14 de março, uma nota pastoral a apelar à consciência dos legisladores e aconselhar a um profundo esclarecimento da sociedade, a propósito da discussão na assembleia da República da eventual legalização da eutanásia, uma prática que equiparam ao suicídio assistido. Para os bispos, não se elimina o sofrimento com a morte: com a morte elimina-se a vida da pessoa que sofre. No documento, intitulado Eutanásia: o que está em causa? Contributos para um diálogo sereno e humanizador, os prelados começam por realçar que o valor intrínseco da vida humana está profundamente enraizado na nossa cultura, tem a marca judaico-cristã, e é mesmo reconhecido pela Constituição da República, designadamente no número 1 do artigo 24º, que determina que a vida humana é inviolável. a vida humana é o pressuposto de todos os direitos e de todos os bens terrenos. É também o pressuposto da autonomia e da dignidade. Por isso, não pode justificar-se a morte de uma pessoa com o consentimento desta. O homicídio não deixa de ser homicídio por ser consentido pela vítima. a inviolabilidade da vida humana não cessa com o consentimento do seu titular, pode ler-se no texto da CEP. Para os bispos, nunca pode haver a garantia absoluta de que o pedido de eutanásia é verdadeiramente livre, inequívoco e irreversível, pois muitas vezes, essa vontade pode traduzir um estado de espírito momentâneo, que pode ser superado, ou é fruto de estados depressivos passíveis de tratamento, ou será expressão de uma vontade de viver de outro modo (sem o sofrimento, a solidão ou a falta de amor experimentados), ou um grito de desespero de quem se sente abandonado. Quando um doente pede para morrer porque acha que a sua vida não tem sentido ou perdeu dignidade, ou porque lhe parece que é um peso para os outros, a resposta que os serviços de saúde, a sociedade e o Estado devem dar a esse pedido não é: “Sim, a tua vida não tem sentido, a tua vida perdeu dignidade, és um peso para os outros”, mas “não, a tua vida não perdeu sentido, não perdeu dignidade, tem valor até ao fim, tu não és peso para os outros, continuas a ter valor incomensurável para todos nós”, refere a nota pastoral. Segundo os prelados, o sofrimento pode ser eliminado ou debelado com os cuidados paliativos, não com a morte.como nos dias de hoje, as técnicas analgésicas conseguem preservar de um sofrimento físico intolerável, [… ] a eutanásia é uma forma fácil e ilusória de encarar o sofrimento, o qual só se enfrenta verdadeiramente através da medicina paliativa e do amor concreto para com quem sofre. Por fim, o texto da CEP alerta para as graves implicações sociais que a eventual legalização da eutanásia pode ter na sociedade portuguesa e na forma como passará a encarar a doença e o sofrimento: Há o sério risco de que a morte passe a ser encarada como resposta a estas situações, já que a solução não passaria por um esforço solidário de combate à doença e ao sofrimento, mas pela supressão da vida da pessoa doente e sofredora, pretensamente diminuída na sua dignidade. E é mais fácil e mais barato. Mas não é humano.