a nossa vida é feita de momentos, encontros, experiências e etapas que podemos e devemos partilhar com outros porque não vivemos isolados ou sozinhos neste mundo
a nossa vida é feita de momentos, encontros, experiências e etapas que podemos e devemos partilhar com outros porque não vivemos isolados ou sozinhos neste mundoUma das experiências mais interessantes que como missionário vivi na Coreia do Sul teve a ver com a mudança de mentalidade nas gerações mais jovens. Vi muitas dessas mudanças nos 17 anos que por lá vivi sobretudo na forma de relação social dentro da família e com os amigos, a maior parte delas para pior, contribuindo para a grave crise que afeta as famílias daquele país. E mais: enquanto aqui no ocidente as mudanças levam anos e anos a instaurar-se, por lá são cada vez mais rápidas e furiosas, ou seja, ocorrem a uma velocidade estonteante, causada sobretudo pelos avanços tecnológicos que caracterizam a sociedade sul-coreana e a influência cada vez mais intensa dos valores ocidentais, negativos e positivos, mas com mais incidência por parte dos negativos. Esta experiência levou-me a chamá-los de geração dos noodles (os famosos esparguetes que na Ásia oriental se comem com água a ferver e que, como tal, cozem instantaneamente). E porque é que os chamava assim? Porque vivem precisamente de forma instantânea e veloz, sempre a correr, como se não houvesse amanhã. Quando aprendia coreano, a expressão que os professores nos indicavam como sendo uma das que melhor definiam o carácter do povo coreano era palli, palli, ou seja, rápido, rápido. Ora, se um dos maiores dons que temos é o dom do tempo, creio que por vezes o desperdiçamos de formas muito variadas e quase sempre sem nos darmos conta. Os anos passam e, quando olhamos para trás, vemos que em certas ocasiões podíamos ter aproveitado mais e melhor o tempo, sobretudo com quem faz parte da nossa vida de forma mais direta e profunda. alguém disse que a vida não é tanto uma questão de quanto vivemos, mas de como a vivemos. Voltando aos jovens coreanos, uma das mudanças no carácter e forma de encarar a vida deu-se em relação à palavra compromisso. Ou seja, muitos vivem com medo de se comprometerem com a vida e com alguém, deixando tudo para um futuro incerto… e, ao mesmo tempo, vivendo tudo a correr e no já e agora. Os compromissos assumidos são de curta duração, porque a dimensão do para sempre mete cada vez mais medo. Ora, todos gostamos de viver e de ser felizes, construindo a nossa felicidade à medida que o tempo passa e o conhecimento de nós mesmos, do mundo e dos outros vai aumentando. Só que o conhecimento maior, ou seja, o que está relacionado com Deus e com o amor, não pode ser vivido como se estivéssemos comendo noodles. Por outras palavras, as modas e tendências são parte da sociedade, tanto local como global, mas mesmo essas vão sendo cada vez mais curtas no tempo. Parece que há uma ânsia voraz de preencher apressadamente espaços da vida e do coração que deveriam ser reservados a um outro ou ao próximo’ de que fala Cristo no Evangelho com experiências rápidas e alucinantes. Mas muitos acabam por sentir um vazio enorme dentro de si mesmos, porque falta na base uma relação íntima e profunda com um Outro que nos define e completa como seres que podem e devem amar e ser amados. a nossa vida é feita de momentos, encontros, experiências e etapas que podemos e devemos partilhar com outros porque não vivemos isolados ou sozinhos neste mundo. Mais ainda: a ideia de que a vida são dois dias, e, como tal, há que aproveitá-la ao máximo parece invadir cada vez mais a mente de muitas pessoas, incluindo jovens. Daí a necessidade de vivê-la como se fosse uma tijela de noodles. Mas a vida deve ser vivida, apreciada e saboreada com calma, com coerência e moderação, de modo a ser autêntica e profunda. E terá mais valor ainda se conseguirmos fazer dela um exemplo de felicidade para outros. São muitas as formas de alcançar a felicidade, mas em Cristo encontramos todas as atitudes e métodos que nos ajudam a alcançá-la. Porém, há ainda muita gente por esse mundo fora que não o conhece.como dizia Jesus, a messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. a messe são os povos e culturas que serão mais enriquecidas com o conhecimento e seguimento dos seus ensinamentos. Mas, como dizia São Paulo, como podem conhecer se não há quem lhes anuncie?