Bastou-lhe um abraço e um sorriso! agora, é a sua vez de apostar na vida. Decidiu renascer
Bastou-lhe um abraço e um sorriso! agora, é a sua vez de apostar na vida. Decidiu renascerNélio estava cansado dos acessos violentos do pai. Talvez por isso o prazer de viver e a aposta em si mesmo tinham há muito desaparecido. Envolveu-se em consumos que lentamente o destruíam, num misto de revolta por uma existência sem cor e de esperança de que um dia, talvez, o pai descobriria como se é pai de verdade. – Porque é que o meu pai é assim? a pergunta nunca tinha resposta e se tinha, não era convincente. Quando decidia ouvir a mãe, reconhecia estar a assumir as mesmas atitudes destruidoras do pai, mas… não via nada por que lutar!Depois de muitos anos a tentar, em vão, apaziguar os comportamentos do marido, a mãe de Nélio saiu de casa e mudou-se com os filhos para uma casa que arrendara, como forma de os proteger a todos. Para trás ficou César a afundar-se ainda mais no seu alcoolismo e solidão. Isolamento só quebrado por Nélio que todos os dias visitava o pai: ia levar-lhe as refeições que a mãe preparava. Não aguentava imaginá-lo sozinho: sabia o tamanho do medo e da dor que a solidão traz. Decidiu passar uma semana com ele. Nesse período fez tudo o que podia para compensar os ânimos exaltados e ofensas mútuas que viveram nos últimos tempos: acompanhou-o em trabalhos, comeram juntos, viveram juntos. Depois de alguns copos o pai até o chamou de meu companheiro. Foi a frase mais poderosa que Nélio se lembra de ouvir do pai a seu respeito. No fim da semana, ao despedir-se para regressar a casa com a mãe, o pai estreitou-o com um abraço quente, prolongado e emocionado. Nélio nem se importou com o hálito alcoólico. Só se sentia a derreter, envolto no calor e no ritmo de um coração acelerado. Na semana seguinte receberam um telefonema: o pai tivera uma crise convulsiva e estava hospitalizado. Nélio e a mãe encontraram-no debilitado e confuso. ao vê-los, repetia incessantemente: quando vêm para casa?- Põe-te bom primeiro. Depois, conversamos – descansou-o a esposa. César esboçou um sorriso e foi adormecendo tranquilamente. No dia seguinte, um telefonema matinal: César tivera nova crise e não sobrevivera. – achas que ele morreu feliz, mãe? – foi a pergunta imediata de Nélio. – Ele sorriu, Nélio! Tu viste! E sabes como é difícil o teu pai sorrir!- E agora? Será que ele se arrependeu?- Sabes o que penso, filho? Nós perdoámos ao pai, não perdoámos? E ele nem precisou pedir perdão. acreditas que Deus é muito, mesmo muito melhor do que nós?- Pois, bem mais! Então queres dizer que ele pode estar feliz?- Não tenho dúvidas, Nélio!Lembras-te de como ele também te soube abraçar?Nélio deixou de ouvir a mãe. a sua memória fê-lo viajar para os braços do pai, embalado naquele único momento em que pôde sentir que era filho amado. Era a vez de Nélio se apaziguar. Bastou-lhe um abraço e um sorriso! agora, é a sua vez de apostar na vida. Decidiu renascer. a alimentá-lo, o amor daquele abraço, e a certeza de que o pai voltou a nascer. E desta vez, no abraço de Deus, para uma vida feliz!