Jesus podia ter escolhido homens mais brilhantes ou um grupo de pessoas mais uniforme. Porém, apostou acima de tudo na capacidade de amar de cada um deles e de se deixarem desafiar, educar e motivar pelos conteúdos da sua doutrina
Jesus podia ter escolhido homens mais brilhantes ou um grupo de pessoas mais uniforme. Porém, apostou acima de tudo na capacidade de amar de cada um deles e de se deixarem desafiar, educar e motivar pelos conteúdos da sua doutrinaNo verão passado estive em Maúa, missão dos Missionários da Consolata pertencente à diocese de Lichinga e província do Niassa, no norte de Mocambique. acompanhei um grupo de cinco voluntários da zona de Lisboa ligados ao Instituto Missionário da Consolata (IMC), dedicados por um mês ao acompanhamento formativo de adolescentes e jovens estudantes, para além de fazerem trabalhos ligados à manutenção dos sistemas informáticos e organização da biblioteca do centro de investigação de Cultura Macua da paróquia de São Lucas (criada em 1988), que é composta por 73 comunidades sob a orientação dos padres Giuseppe Frizzi e Carlo Biella, ambos italianos. Um dos objetivos desta experiência tinha também a ver com a criação de uma base de dados sobre a cultura daquela região, sobretudo para uso na animação missionária em Portugal e formação de futuros voluntários. Neste contexto, visitámos a pequena aldeia de Nakeshe, onde causámos sensação porque os mucunha (nome pelo qual nos tratavam, ou seja, branco) são vistos muito raramente entre os seus habitantes. acompanhou-nos o responsável do sector cultural da região de Maúa. após uma receção muito tímida e desconfiada, depressa se habituaram à nossa presenca e a timidez deu lugar a muita alegria e confraternização, sobretudo através da dança. De facto, fomos ali para assistir e gravar com áudio e vídeo algumas das dancas típicas desta região, danças onde as mulheres e meninas são bailarinas e os homens os músicos. Um dos sons da banda era oriundo de um instrumento muito curioso, fruto da criatividade causada pela falta de recursos típica desta zona pobre: a ponta de uma enxada, que, com um prego grande, tem a função dos nossos ferrinhos ou triângulo português. Este não é certamente um instrumento em si, mas o facto é que a ponta da enxada e o prego contribuíram para o enriquecimento dos sons que a banda produzia e que as mulheres e crianças interpretavam com os seus movimentos. Tudo isto acompanhado pelo colorido das capulanas, peça de tecido tradicional que é usada como saia e pano de apoio das crianças quando transportadas às costas, entre outros fins. E pensando na ponta da enxada, recordei o chamamento dos discípulos: Jesus podia ter escolhido homens mais brilhantes ou um grupo de pessoas mais uniforme; porém, na escolha de pessoas com idades e capacidades diferentes, Ele apostou acima de tudo na capacidade de amar de cada um deles e de se deixarem desafiar, educar e motivar pelos conteúdos da sua doutrina. O mesmo acontece com aqueles que são chamados à vida consagrada e missionária, porque a verdadeira vocação está na capacidade de entrega e partilha do amor que se tem no coração. Claro, isto é válido para todo o tipo de vocações ou formas de estar na vida. Encontrei este elemento vocacional nos missionários que conheci ou reencontrei durante a minha permanência em Moçambique. Vários são oriundos de outros países, uns em Cuamba, outros em Nampula e os dois em Maúa: todos produzem sons de missão que embelezam e enriquecem a vida destas gentes que, com a sua cultura, enriquecem por sua vez a vida destes missionários. Tudo isto culmina numa simbiose muito particular: a partilha de experiências de vida e de fé que, embora diferentes, têm em comum este elemento essencial: estarem centradas no Mestre da orquestra, Jesus Cristo. E tu? Já pensaste no lugar que podes ocupar nesta orquestra missionária? Certo, a missão acontece não só em África, mas em todo o lado, mesmo em Portugal, mas Cristo continua a convidar os jovens para que sejam músicos noutras latitudes e culturas, para que as histórias e músicas do Evangelho sejam conhecidas, cantadas e dançadas por todos os povos da terra, cada um segundo as suas tradições e costumes.