Portugal não tem, necessariamente, que estar entre os países mais pobres da Europa. Não havendo receitas infalí­veis para inverter a pobreza, há medidas que podem ser implementadas, sobretudo pelo Governo, para se conseguir melhores condições de vida
Portugal não tem, necessariamente, que estar entre os países mais pobres da Europa. Não havendo receitas infalí­veis para inverter a pobreza, há medidas que podem ser implementadas, sobretudo pelo Governo, para se conseguir melhores condições de vidaCelebrou-se ontem o Dia Mundial da Erradicação da Pobreza, dedicado pelas Nações Unidas (desde o ano de 2000) a promover a consciencialização sobre a necessidade de erradicar a pobreza e a miséria em todo o mundo. Numa informação a propósito da comemoração deste dia, o Eurostat informou que um em cada quatro habitantes da UE estava em risco de pobreza ou exclusão social, um valor mais alto do que o registado em 2008 (23,8%). Estes dados, que em Portugal eram de 26% em 2008 e de 27,5% no ano passado, querem dizer que o risco de pobreza ou exclusão social aumentou em Portugal em cerca de 100 mil entre o início da crise (em 2008) e o ano em que a economia regressou a terreno positivo (2014), o que significa que no ano passado estavam nesta situação 2,86 milhões de pessoas.

Também o Instituto Nacional de Estatística (INE) revelou sexta-feira passada o Inquérito às Condições de Vida e Rendimento. O documento atesta que o número de idosos que vive em privação material aumentou entre 2013 e 2014. Segundo o INE em 2013, a taxa do risco de pobreza é de 25,9% da população. Ou seja, quase 2,7 milhões de portugueses vivem com sérias dificuldades económicas. Neste grupo, há ainda 10,6% em situação de privação material severa, não se registando alterações. Segundo o inquérito, realizado em 2014 sobre os rendimentos de 2013 das famílias residentes em Portugal, a proporção mais elevada de pessoas em privação material encontrava-se no ano passado no grupo dos menores de 18 anos (27,4%), situação já observada nos anos anteriores. Contudo, foi sobretudo a proporção de idosos em privação material a que mais aumentou entre 2013 e 2014 (de 23,1% para 25,2%).

Carlos Farinha Rodrigues, professor do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) e um dos coordenadores do trabalho da Fundação Francisco Manuel dos Santos que retrata as desigualdades sociais no país, em entrevista à Rádio Renascença afirmou: a grande lição que se pode tirar sobre este período de austeridade é que, claramente, nós tivemos um retrocesso das políticas sociais. Durante o período de ajustamento financeiro, a taxa de risco de pobreza passou de 45,4% para 47,8% em Portugal e a resposta à crise terá acentuado o cenário, segundo o investigador.
a situação atual é retratada pelo professor desta forma: a intensidade da pobreza subiu fortemente. Ou seja, nós não só temos mais pobres como os nossos pobres estão em pior situação, estão mais pobres. as políticas implementadas para responder à crise, em vez de tentar atenuar a situação dos mais pobres, acabaram por reforçar as suas condições de precariedade.

apesar de os governantes afirmarem que a pobreza está a diminuir, no terreno a realidade parece ser outra. Os sinais de pobreza estão-se a acentuar. Contrariamente ao que os nossos responsáveis dizem, as situações de grande carência estão a crescer no nosso país, afirma Manuel Carvas Guedes, responsável pela Sociedade de São Vicente de São Paulo do Porto, que apoia mais de 13 mil famílias todos os anos. Este responsável não acredita, contudo, que em Portugal exista fome, já que a solidariedade defende os mais necessitados. O nosso povo tem uma enorme virtude: é solidário, assinala. Mas continuam a existir carências básicas: Crianças que não tomam o seu leite quando deviam tomar, não comem fruta, não comem carne e outros alimentos que são essenciais para o seu desenvolvimento. além disso, há muitas situações de jovens a meio dos seus cursos superiores, em que os pais ficaram desempregados e não conseguem continuar a pagar os estudos, acrescenta Manuel Guedes.

adriano Moreira, conhecido político e professor, havia referido em junho passado em entrevista à Rádio Renascença – quando confrontado com a falta de recursos de Portugal para atingir os objetivos que tem para cumprir- que a culpa era da má governação. Discute-se muito quais as causas da pobreza dos países, mas tenho sempre a ideia que entre as causas tem que se dar o lugar ao mau governo. Um bom governo não permitiria uma política destas, que levou a uma situação de fragilidade, sacrifício, fadiga financeira, desemprego, emigração e quebra de natalidade, afirmou o estadista. O professor adriano Moreira, cuja experiência pessoal e política é reconhecida, pôs o dedo na ferida. Basta olharmos para a situação atual do país, e constatar a guerra aberta entre os políticos para assumirem o poder, para depreendermos que os interesses pessoais e de partido estão à frente de uma boa governação. Perante esta situação só resta a verdadeira solidariedade social que felizmente ainda faz parte dos bons costumes portugueses.