«Sabe-se que os católicos são já mais na África, na américa Latina e na Ásia do que na velha Europa. E isso ajuda a explicar esta novidade de um Papa do Novo Mundo a suceder a Bento XVI»
«Sabe-se que os católicos são já mais na África, na américa Latina e na Ásia do que na velha Europa. E isso ajuda a explicar esta novidade de um Papa do Novo Mundo a suceder a Bento XVI»as origens, o estilo e até o nome que escolheu como Papa fazem de Francisco uma novidade na chefia da Igreja Católica, capaz de entusiasmar crentes e não crentes. Mas de inovador a revolucionário vai grande distância e aquilo que o Papa argentino, nascido Jorge Mario Bergoglio, tem feito nestes dois anos e meio de pontificado tem uma lógica que assenta na procura de modernização que a Igreja Católica assume pelo menos desde o Concílio Vaticano II, há mais de meio século. Por isso medidas entendidas como surpreendentes, seja a encíclica dedicada às alterações climáticas, seja o anúncio da possibilidade dada aos padres de perdoar o aborto durante o Jubileu da Misericórdia, que se inicia a 8 de dezembro, são um grande passo, mas não um salto. Por outras palavras, com Francisco, por muito que se queira falar de revolução, o que está a acontecer é evolução, no sentido de mudança. E, sim, a ritmo acelerado. Uma área em que se pode dizer que isso está a verificar-se é na abordagem do conceito de família e daí a relevância do Sínodo dos bispos sobre a família que acontece este mês de outubro. a necessidade de acelerar o processo de anulação dos casamentos é um bom exemplo da forma como este Papa encara a missão: evitar complicar a vida aos católicos quando não está em causa nem a fé nem os fundamentos da Igreja. Porque se a crítica de que a Igreja Católica resiste à modernidade faz certo sentido, também é evidente que uma instituição que sobrevive dois mil anos só o consegue porque transmite uma ideia de estabilidade, de resistência ao modo como sopram os ventos do tempo, tão propícios a mudar de direção. E Francisco, por muito que goste de cativar até figuras assumidamente ateias como o presidente cubano Raul Castro, sabe que é à comunidade católica que a sua ação se dirige. E que se há crentes que são entusiastas de novas formas de conceber uma família, também há aqueles que se agarram à convicção de que a tradição é para manter, que nem tudo é relativo e que neste turbilhão que é o mundo de hoje compete à Igreja Católica ser uma âncora. Mas há ainda, sobretudo nesta questão da família, uma outra divisão. Sabe-se que os católicos são já mais na África, na américa Latina e na Ásia do que na velha Europa. E isso ajuda a explicar esta novidade de um Papa do Novo Mundo a suceder a Bento XVI. Ora, um dos grandes desafios de Francisco é responder às expectativas de comunidades católicas com preocupações distintas, sem parecer ser demasiado inovador para umas e demasiado conservador para outras. O seu sucesso interessa não só aos crentes como a todos que veem no Papa uma figura inspiradora.