Em sintonia com a doutrina social da Igreja, a pergunta de Francisco é direta: «Que tipo de mundo queremos deixar a quem nos vai suceder, às crianças que estão a crescer?» Sim, porque «somos nós os primeiros interessados em deixar um planeta habitável
Em sintonia com a doutrina social da Igreja, a pergunta de Francisco é direta: «Que tipo de mundo queremos deixar a quem nos vai suceder, às crianças que estão a crescer?» Sim, porque «somos nós os primeiros interessados em deixar um planeta habitávelNão têm faltado comentários à encíclica Laudato Si que o Papa Francisco dirigiu ao mundo inteiro sobre o cuidado da Criação em vista de um crescimento na responsabilidade para com a casa comum. Se há muitíssimas vozes positivas, não têm faltado vozes discordantes, dizendo-a bem intencionada, mas economicamente errada, pela visão negativa em relação aos mercados e por tantos aspetos da economia global merecedores de críticas. Mas não há dúvida que na Carta temos um urgente desafio a proteger a nossa casa comum na preocupação real de unir toda a família humana na procura de um desenvolvimento sustentável e integral. Tudo imbuído de muita esperança, sabendo que, com ajuda de todos as coisas podem mudar. Em sintonia com a doutrina social da Igreja, a pergunta de Francisco é direta: Que tipo de mundo queremos deixar a quem nos vai suceder, às crianças que estão a crescer?Sim, porque somos nós os primeiros interessados em deixar um planeta habitável para a humanidade que nos vai suceder. a este propósito, chamo a atenção dos nossos leitores para a interessante abordagem que aqui faz da encíclica o teólogo Marcelo Barros. De facto, Francisco afirma claramente que a terra, maltratada e saqueada, grita e os seus gemidos unem-se aos de todos os pobres da terra. Convida a ouvi-los e exorta todos e cada um – indivíduos, famílias, coletividades locais, nações e comunidade internacional – a uma conversão ecológica, isto é, a mudar de rumo, assumindo o compromisso de cuidar da casa comum. Tudo está relacionado, diz o Papa. Não se trata somente da proteção da Terra, da água, do céu e do ar, mas também do homem. É necessário um trabalho conjunto para criar uma ecologia humana sustentável. O termo ecologia é assumido não no significado comum, e por vezes superficial, de uma preocupação verde, mas no sentido bem mais profundo de um olhar global sobre o planeta Terra. Sendo ele um ecossistema, não se pode agir sobre uma parte sem que as outras o ressintam. Por isso é preciso buscar soluções integrais. Não há duas crises separadas: uma ambiental e outra social; mas uma única e complexa crise socioambiental. Isto requer uma abordagem integral para combater a pobreza, devolver a dignidade aos excluídos e, simultaneamente, cuidar da natureza. É evidente a ligação profunda entre as grandes questões ambientais globais e as pequenas ações quotidianas de defesa do ambiente e do território, como sejam a separação diferenciada de resíduos ou a poupança da água ou da energia. Não são deveres ascéticos verdes, mas verdadeiros atos de amor que exprimem a nossa dignidade e dão forma a uma cultura ecológica, de que o mundo tanto precisa. Tarefa enorme e responsabilidade inadiável, porque é preciso mudar de rumo.