a baixa no número de desempregados anunciado pelo INE, a semana finda, causou uma guerrilha entre políticos de vários quadrantes. Governo e oposição esgrimem argumentos opostos, mas não dando atenção ao que mais interessa: as pessoas
a baixa no número de desempregados anunciado pelo INE, a semana finda, causou uma guerrilha entre políticos de vários quadrantes. Governo e oposição esgrimem argumentos opostos, mas não dando atenção ao que mais interessa: as pessoasNa base de tanta contestação está a revisão dos números referentes a maio passado feita pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Inicialmente eram 13,2% sendo revistos para 12,4%. Convém referir que os dados mensais são sempre provisórios, dado que o que conta efetivamente é o trimestre. Por isso a presidente do INE, alda Carvalho, garante que a revisão dos números do desemprego de maio não foi um erro, embora admita que ficou surpreendida.
Explicou que os números revelados pelo INE, apesar de serem descritos como de maio, significam que pertencem ao “trimestre móvel”, ou seja, abril, maio e junho. No final de junho, o INE divulgou que a taxa de desemprego era de 13,2%, número que incluia a informação completa de abril e maio, mas não a do terceiro mês. Foi então feita uma projeção.
Este método é seguido pelo INE, tendo alda Carvalho salientado que foi amplamente testado. Isto é, os primeiros números são provisórios, sendo depois revistos quando o INE recebe a informação que estava em falta. Só após esta operação é que são publicados os números definitivos.

Independentemente da polémica que se gerou, a verdade é que estes números refletem o sustar dum ciclo de destruição de postos de trabalho. Durante 11 trimestres consecutivos, a seguir à crise das dívidas soberanas, Portugal empobreceu. assistiu-se à maior recessão dos seus últimos 70 anos. É bom ter havido uma ligeira subida do emprego, 66 mil num ano, depois de a crise ter sido prolongada por políticas exageradamente recessivas.com um crescimento próximo de 1,5%, o mercado de trabalho começa a dar sinais de mais vitalidade. Para este crescimento os vetos do Tribunal Constitucional e as políticas do BCE ajudaram, mas logo as contas externas manifestaram sinais negativos, porque as ditas reformas estruturais competitivas não foram executadas.

Sobre a justeza dos números e da entidade que os coordena, José Manuel Fernandes apresentou um trabalho no Observador que merece a nossa atenção, pelo que passamos a citar: Os números oficiais, goste-se ou não deles, são os do Instituto Nacional de Estatística, um organismo público cuja independência e seriedade, ninguém tem posto em causa (se alguma dúvida houve, é bom recordar, foi do Governo). E quanto aos números que hoje conhecemos, goste-se ou não deles, trouxeram boas notícias relativamente ao emprego e desemprego no segundo trimestre de 2015. Contudo também foi dizendo: Os números do desemprego não devem esconder os do emprego. aí se vê quais os setores onde se perderam empregos para sempre e se descobre como há, depois da crise, muito mais licenciados empregados.

Em relação à valorização das duas vertentes, desemprego/emprego, o colunista do Observador afirma: Politicamente, os números que vão valer mais são os do desemprego, porque é dele que se esteve sempre a falar. E vão valer pelo que representam de surpresa: há um ano, mesmo há seis meses, ninguém – nem mesmo o mais otimista dos governantes – imaginaria possível que o desemprego tivesse baixado para estes números, menos ainda que fosse possível acabar a legislatura com números melhores que os legados pela anterior maioria. É pois da ordem natural das coisas que PSD e CDS tenham saltado de alegria e que o PS tenha vindo falar de manipulação.

apesar de todas as razões aduzidas pelas partes, somos de opinião que para além dos números oficiais do INE é necessário olhar com olhos de ver para o que o desemprego significa para as pessoas e quem atinge na realidade. a taxa de real, isto é a que soma desencorajados e part-time involuntário, permanece acima de 20% e com o crescimento previsto baixará apenas marginalmente nos próximos anos, são estimativas do relatório da primeira avaliação pós-programa do FMI. Os técnicos do FMI continuam a avisar que o cenário é mau e não ficará substancialmente melhor, pelo menos considerando as perspetivas de crescimento económico de longo prazo que assumem.
Perante esta realidade de pouco vale a discussão se o desemprego baixou. Embora seja uma boa notícia, seria antes de exigir a este Governo, e/ou outro que possa ser eleito, que se preocupassem mais com as pessoas. E isso sim faria toda a diferença.