No Quénia onde o voto popular vai decidir sobre uma nova Constituição há já sangue derramado.
No Quénia onde o voto popular vai decidir sobre uma nova Constituição há já sangue derramado. O diálogo político no Quénia ainda está muito – para não dizer todo – tribalizado. assim o actual discurso de campanha sobre se a 21 de Novembro o povo deve ou não ratificar uma nova Constituição para o país, transformou-se num discurso tribal e num discurso geográfico. Se numa zona a tribo dominante tem chefes que se opõem à nova lei constitucional, está em perigo a vida de alguém que ouse defender a ratificação dessa lei.
Em Kisumu, zona predominantemente Luo e contrária à nova Constituição houve ontem graves distúrbios porque dois ministros favoráveis à mesma ousaram convocar aí um comício. as estradas foram bloqueadas, os ministros corridos à pedrada e tal foi a confusão que a polícia teve que recorrer às armas, ficando mortas três pessoas e feridas muitas mais.
Estamos ainda a três semanas de distância do voto popular e temos a impressão que estas cenas de violência e de sangue sejam apenas um prelúdio de coisas maiores. Há já quem abertamente diga que há condições para um possível golpe de estado. Outros dizem que depois do referendo se farão as contas e o grupo perdedor deverá sofrer graves consequências.
São palavras que deixam o coração triste. Se a democracia consiste em estar de acordo com os chefes locais, então não estamos fazendo um referendo constitucional mas apenas fazemos uma afirmação política partidária.
Dado que no boletim de voto a rejeição é indicada por uma laranja e a aprovação por uma banana, até mesmo a dieta habitual está a ser afectada. antes de comer uma banana em público em certas zonas do país o cidadão deve verificar se o pode fazer em segurança, não vão os vizinhos concluir que ele está fazendo uma afirmação de voto e merece uma lição que o ajude a comer laranjas durante as próximas semanas. Eu que estava aqui em Nairobi quando em 1982 se deu uma tentativa de golpe e estado militar espero e rezo para que os tiros que nessa altura soaram aqui bem perto da nossa igreja nunca mais se repitam.