a Comissão Espanhola de ajuda ao Refugiado denunciou o estado espanhol ante o Tribunal Europeu de Direitos Humanos pela deportação ilegal de 73 imigrantes subsarianos para Marrocos.
a Comissão Espanhola de ajuda ao Refugiado denunciou o estado espanhol ante o Tribunal Europeu de Direitos Humanos pela deportação ilegal de 73 imigrantes subsarianos para Marrocos. a denúncia foi feita esta semana e a deportação teve lugar a seis de Outubro, sem que fossem garantidos os direitos humanos fundamentais dos deportados.
Esta é apenas a ponta do iceberg de um grande problema: a pobreza do sul, que clama às portas do norte, fechadas às pessoas, mas abertas às matérias-primas e ao dinheiro. Neste momento, centenas de imigrantes subsarianos que entraram em Espanha saltando a cerca que separa Ceuta e Melilla (território espanhol) do território marroquino, esperam, detidos nos Centros de Detenção temporal para imigrantes ilegais que entras nestas duas cidades.
O governo espanhol não duvidou em violar o Convénio Europeu de Direitos Humanos ao expulsar rapidamente várias destas pessoas para Marrocos. Os países que assinaram esse convénio devem garantir que antes da devolução a pessoa tenha tido a assistência de um advogado e de um intérprete e que tenha tido acesso ao seu direito de pedir asilo. Devem também verificar que a pessoa deportada não corre o risco de tortura, tratos inumanos ou degradantes no país para onde é enviada.
Várias organizações não governamentais e meios de comunicação internacionais já denunciaram que nenhum destes pontos foi cumprido. No caso concreto destes 73 imigrantes, o governo não informou os seus advogados da repatriação, prescindiu da necessária ordem judicial para proceder à expulsão, e serviu-se da lei da imigração abolida há já nove meses e declarada ilegal pelo Supremo Tribunal da Espanha.
Desde um de Outubro que o governo marroquino começou a deportar grupos de imigrantes para o deserto do sul do país, onde os abandona à sua sorte, sem comida nem água. Este trato não é mais que a continuação das agressões, roubos, violações, incluso a menores, e até homicídios que as forças de segurança marroquinas cometem contra os imigrantes.
O outro lado da fronteira não é melhor. a polícia espanhola também cometeu agressões não justificadas contra estas pessoas, segundo relatórios da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF).
Os imigrantes enfrentam também bandos de delinquentes comuns e máfias que praticam agressões, torturas, raptos e desaparecimentos nos seus ajustes de contas.
De todas as pessoas tratadas pelos membros da MSF, uma em cada quatro eram vítimas da violência vivida pelos imigrantes desde que iniciaram a sua odisseia no país natal, recorrendo as centenas de quilómetros que os separavam de Marrocos, para assim tentar entrar em território espanhol.
Desde seis de Outubro que não se registou outro assalto em vaga às cercas. Nesse dia houve vários feridos e seis mortos entre os imigrantes, abatidos pelos militares marroquinos em autodefesa, segundo uma comissão de investigação. Esta ausência de entradas massivas, unida à transferência contínua de subsarianos a outros centros de detenção da península, fez diminuir 1. 700 para 1. 200 o número de acolhidos. São outras tantas histórias de sofrimento, que esperam um futuro melhor, pelo qual estão dispostos a arriscar uma e outra vez a própria vida.
Termino com um fragmento de uma carta escrita por Bashige Michel, um imigrante que, do lado marroquino da cerca, escreveu a 12 de Outubro:

Todos os dias assistimos impotentes à nossa exploração, quem ousa abrir a boca recebe um tiro na nuca. Pelo contrário, o ocidente oferece-nos armas e as matanças continuam na nossa terra. Porquê, em lugar de nos ajudar a sair do buraco em que nos encontramos, acabam por nos afundar ainda mais? Na verdade, a miséria em vez de diminuir nos nossos países aumenta cada dia Os nossos filhos estão assim condenados a viver com os traumas da miséria e na ameaça constante das guerras. Os que conseguem escapar da guerra, morrem de fome! Estamos condenados à miséria em países onde o ouro, os diamantes, o coltan [mineral muito raro usado na electrónica], o cobre e até o petróleo flúem em caudais! E sempre para o bem estar de outros! O mundo é malvado, não é? Não se surpreendam se choro enquanto falo, é horrível o que estamos a viver. Por isso, com amargura vou tentar escalar o muro quando chegar o momento favorável. Viver ou morrer, para mim já é o mesmo. Ninguém se vai preocupar com a minha sorte Digam-me, senhores e senhoras da sociedade espanhola: que mal fizemos para merecer esta sorte?