Para a Turquia é prioritária uma resolução para o separatismo curdo. E a oferta de diálogo de Ocalan foi bem recebida, fazendo quase esquecer que não há muito tempo o Presidente Erdogan chamava terrorista ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão
Para a Turquia é prioritária uma resolução para o separatismo curdo. E a oferta de diálogo de Ocalan foi bem recebida, fazendo quase esquecer que não há muito tempo o Presidente Erdogan chamava terrorista ao Partido dos Trabalhadores do CurdistãoMetade dos 30 milhões de curdos, a maior das nações sem Estado, vive na Turquia. Desde 1984, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão luta para obter a independência ou, pelo menos, uma vasta autonomia e direitos culturais. agora, o líder oferece o fim da luta armada em troca de negociações com o governo de ancaraQuando abdullah Ocalan fala, os curdos escutam. Pelo menos os curdos da Turquia, 15 milhões de pessoas. Por isso a extrema importância do apelo feito no último dia de fevereiro pelo líder histórico do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) para que o movimento faça um congresso extraordinário já nesta primavera para acabar de vez com a luta armada e iniciar um processo político que garanta todos os direitos aos 20 por cento de cidadãos turcos de etnia curda. Ocalan foi capturado há 15 anos e vive na ilha-prisão de Imrali. É impressionante como a sua influência se perpetua sobre o PKK, grupo marxista que desde 1984 combate o exército turco no leste da Turquia e conta com bases no norte do Iraque. Da parte do governo de ancara, há sinais de que uma solução pacífica para o problema curdo colhe apoios entre o primeiro-ministro ahmet Davutoglu e o Presidente Recep Erdogan, há mais de uma década o homem forte do país. Para se perceber a força do PKK é necessário olhar para a história dos curdos, cerca de 30 milhões de pessoas espalhadas por quatro países do Médio Oriente. Ora, os curdos reclamam ter 25 séculos de história. E entre as suas referências estão o Império dos Medos, criado no século VI a. C, e a dinastia fundada por Saladino no século XII. Islamizados há 1. 300 anos, recusaram, porém, a arabização, como mais tarde a turquicização. Por isso até hoje a sua língua, de raiz indo-europeia, nada tem que ver com o árabe ou o turco. É próxima do persa. a partir do século XVI, os príncipes curdos fizeram um acordo com os sultões otomanos, que lhes davam autonomia a troco de guardarem as fronteiras leste do império. Numa época em que a religião e os soberanos valiam mais do que a nação, os curdos mantiveram assim várias dinastias. ao mesmo tempo, a liberdade dada pelos sultões turcos permitiu que a cultura e a língua curdas se mantivessem. Durante a Primeira Guerra Mundial e à medida que a derrota do Império Otomano, aliado da alemanha, se tornou provável, os curdos começaram a pensar no futuro. Durante o último século várias nações tinham-se libertado do jugo turco, mas eram cristãs, como os gregos. aproveitando a guerra de 1914-1918, e instigado pelos britânicos através de Lawrence da arábia, finalmente um povo muçulmano se rebelou, os árabes. Os curdos, porém, ficaram fiéis ao sultão. Em Versalhes, os vencedores da guerra refaziam as fronteiras, num tratado que criava uma nova ordem. Percebeu-se logo que as terras otomanas eram alvo de cobiças várias, com os franceses a retalharem partes do Curdistão para as ligarem à Síria, sua nova colónia, e os britânicos a conseguirem incluir a província de Mossul no recém-criado Iraque. Em 1920, um novo tratado oferecia um Estado aos curdos. Mas o entusiasmo foi pouco e Mustafa Kemal ataturk não teve dificuldade em conseguir apoio dos líderes curdos na sua guerra pela criação de um país que congregasse turcos e curdos, unidos pelo Islão.com a proclamação da República da Turquia, em 1923, ataturk optou, porém, pela criação de um Estado moderno, laico e unitário, impondo a língua turca a todos os cidadãos. ao longo dos anos, sucessivos governos foram negando a identidade curda, chamando à etnia turcos das montanhas. E é nesse contexto que começa em 1984 a luta do PKK. Nos países vizinhos, também o separatismo curdo se faz sentir. Reprimido na Síria e no Irão, obteve sucessos no Iraque. apoiados pelos Estados Unidos da américa, os curdos do Iraque conseguiram depois da queda de Saddam Hussein em 2003 obter vasta autonomia, financiada pelo dinheiro do petróleo. atualmente possuem tanta força que o exército iraquiano pede a ajuda dos peshmergas, os combatentes curdos, para enfrentar o Estado Islâmico. Para a Turquia é prioritária uma resolução para o separatismo curdo. E a oferta de diálogo de Ocalan foi bem recebida, fazendo quase esquecer que não há muito tempo o Presidente Erdogan chamava terrorista ao PKK. Mas além da questão dos direitos linguísticos e culturais, uma solução para o leste turco, zona pobre, passa também por maior desenvolvimento económico e nesse campo Erdogan tem créditos: é pai do milagre económico turco da última década, que pôs o país no G20, o grupo das 20 economias mais desenvolvidas.