O tempo passava e Simão aprendia rápido todos os segredos do campo e da vacaria. O rapazinho inseguro e envergonhado que pensava «ser um triste», passara a ser um companheiro divertido e brincalhão
O tempo passava e Simão aprendia rápido todos os segredos do campo e da vacaria. O rapazinho inseguro e envergonhado que pensava «ser um triste», passara a ser um companheiro divertido e brincalhãoSérgio encheu-se de coragem e foi a casa do senhor Rogério. Talvez ele salvasse Simão. – Senhor Rogério, não gosto de fazer pedidos, mas talvez possa ajudar o meu sobrinho mais velho: é bom rapaz mas na aldeia só tem os amigos para se ocupar. a minha irmã não consegue matar a fome aos filhos todos, e com o meu cunhado não se pode contar. Se conseguisse dar-lhe trabalho e fazer dele um homem. Duas semanas depois Simão entrou no quarto que o Rogério lhe preparara num anexo da casa da família. O dia a dia começou duro: do nascer ao pôr do sol havia sempre que fazer – bem diferente de estar sentado com os amigos nos muros do café da aldeia. Quando numa manhã Rogério o convidou a subir ao trator e o ensinou a conduzir, o seu mundo cresceu. a visão do horizonte a partir daquele lugar é uma imagem que não esquece: dali, prometeu a si mesmo que um dia iria à aldeia, com o seu carro, e levaria a sua mãe e os irmãos à terra da avó, como ela tanto desejava. Todas as semanas Simão voava até à caixa multibanco para depositar na conta da mãe metade do seu salário. Em todo o percurso imaginava-a a rezar, agradecida pela comida na mesa, e os irmãos a poderem usar a camioneta para a escola, como os outros miúdos da aldeia. até talvez pudessem continuar os estudos!O tempo passava e Simão aprendia rápido todos os segredos do campo e da vacaria. O rapazinho inseguro e envergonhado que pensava ser um triste, passara a ser um companheiro divertido e brincalhão. Tinha a confiança de Rogério e de amélia e isso dava-lhe vontade de assobiar como se aos 18 anos tivesse descoberto que havia música na sua vida. Um dia, Rogério chamou-o ao cimo da colina acabada de desbravar e disse-lhe: – Simão, proponho-te um negócio: esta colina fica só à tua responsabilidade. Tudo o que fizeres nela é teu, mas só podes trabalhá-la nas tuas horas livres.compro-te o que colheres, mas todo o dinheiro vai para uma conta que só podes usar na compra do teu carro. Se aceitares, ofereço-te a carta de condução. Simão olhou arregalado aquele senhor de braços musculados e mãos calejadas. Pela primeira vez, teve coragem de lhe dar o abraço que muitas vezes desejara.como resposta, teve o maior e mais sentido abraço de sempre. Naquele momento sentiu-se um homem. Todos os dias, do alto da colina, Simão olhava com carinho o evoluir das sementes e sonhava. E o sonho ia moldando a sua vontade e o seu esforço. Num dia especial, o desafio de Rogério cumpriu-se: Simão estacionou à frente da casa da mãe um carro reluzente. Entrou em casa. a mãe fazia o almoço com a mesa já posta para os filhos que daí a pouco chegariam da escola. Simão fez-se anunciar com o seu assobio. aproximou-se da mãe, tirou-lhe o avental e trouxe-a ao quintal. Entregou-lhe uma chave e anunciou muito sério, cheio de orgulho na voz:- Mãe, hoje o teu almoço de aniversário não é aqui em casa. E quem te leva e aos manos, sou eu!Um passarinho passou a cantar, juntando-se à imensa orquestra que explodia em crescendo no coração de ambos.