O testemunho é de Catarina Martins, diretora em Portugal da Fundação ajuda à Igreja que Sofre, no rescaldo de uma visita humanitária ao Líbano e Iraque, onde é cada vez mais preocupante a perseguição aos cristãos
O testemunho é de Catarina Martins, diretora em Portugal da Fundação ajuda à Igreja que Sofre, no rescaldo de uma visita humanitária ao Líbano e Iraque, onde é cada vez mais preocupante a perseguição aos cristãos Os números são dramáticos. Nos dois países, há cerca de quatro milhões de refugiados, resultado de um genocídio em curso no Médio Oriente, diz a responsável em entrevista à FaTIM a MISSIONÁRIa. Catarina Martins relata ainda os casos comoventes de famílias que vivem amontoadas em contentores, tendas ou quartos exíguos, e aponta o dedo ao silêncio da comunidade internacional perante esta crise humanitária. Fátima Missionária Que balanço faz da visita ao Médio Oriente, concretamente ao Líbano e ao Iraque? Catarina Martins Estive no Líbano e no Iraque, e nos dois países a situação é dramática em termos humanos e sociais. Falando no caso do Líbano, 50 por cento da população é, neste momento, refugiada. O Líbano tem cerca de quatro milhões de habitantes e perto de dois milhões são refugiados. Não há eletricidade, água suficiente, hospitais ou escolas. O que vi foi uma sociedade angustiada, com a maioria das pessoas a querer fugir para a Europa, Estados Unidos da américa e austrália, embora neste momento a obtenção dos vistos seja extremamente difícil. São pessoas muito sofridas, que perderam tudo. No caso do Iraque, em agosto passado, cerca de 125 mil cristãos fugiram das planícies, como Mossul, em 24 horas. a maioria achou que era por dois, três ou quatro dias, e, portanto, saiu sem nada. Outros começaram a ouvir que teriam de se converter ou teriam de pagar imposto para não serem mortos. Quando falamos que há um genocídio em curso no Médio Oriente, falamos também de uma limpeza étnica no Iraque. Todas as pessoas com quem fui falando questionavam-se sobre o porquê deste silêncio na Europa, o porquê da nossa ausência de resposta, de uma afirmação contra aquilo que se está a passar. E isso é uma revolta bastante grande que eles têm, mas, ao mesmo tempo – e foi uma coisa que me impressionou e marcou muito – mantêm a fé. apesar de nada terem, confiam em absoluto em Deus. FM Pelo que observou e tendo em conta a situação no terreno, que ajudas é que as pessoas precisam, quais são as prioridades? CM É fundamental continuar a falar desta questão no Ocidente. Outro pedido que nos foi feito é que façamos uma pressão para acabar com o envio de armas e o envio de jovens para estes países para lutar, e depois, que se promova uma ajuda concreta. No Iraque, estamos a falar de 1,8 milhões de pessoas deslocadas dentro do país, que não têm nada e precisam desesperadamente da ajuda da comunidade internacional. O que a Igreja nos pede, é que ajudemos as pessoas a encontrar um espaço, uma casa, um quarto, onde possam viver. É preciso tirá-las das tendas, dos contentores, e dar mais dignidade à sua vida. Se conseguirmos imaginar o que é estar durante oito meses a viver em quartos, em contentores ou tendas com não mais do que seis metros quadrados Eu vi algumas em que estavam 17 pessoas. Imaginemos o que é viver 24 horas sobre 24 horas num espaço tão pequeno sem qualquer tipo de condições. Não há janelas, não há arejamento, é tudo muito mau. Depois é preciso continuar com a ajuda de emergência, de subsistência, porque os níveis de desemprego são altíssimos, e estas pessoas vão continuar a necessitar de apoio para a alimentação, vestuário, consultas e tratamento médico. Quero também acrescentar a outra grande preocupação da Igreja: a educação, ou seja, ajudar as crianças que estão nos campos de refugiados que deixaram de poder ir à escola. FM a Fundação aIS não se tem poupado a esforços para lançar campanhas a favor dos cristãos do Médio Oriente. Pondera a hipótese de uma nova campanha? CM Sem dúvida. Neste primeiro momento, vivemos uma ajuda de emergência, no sentido de minorar o sofrimento destas pessoas, mas a perspetiva é que o conflito irá continuar. Portanto, é preciso dar-lhes dignidade, tanto mais que os pedidos que trouxemos foram muitos. Falei com um padre, por exemplo, que tem 550 famílias a seu cargo desde agosto do ano passado. São, no mínimo, 2. 000 a 2. 500 pessoas, que ele alimenta, veste, ajuda a ir ao médico e apoia com combustível para o aquecimento das casas. Portanto, ponderamos seriamente voltar a fazer uma outra campanha de emergência para estes dois países.