«Que fazer para não nos deixarmos absorver por esta espiral de terror e impotência? Como Igreja, como comunidades ou individualmente somos chamados a intervir»
«Que fazer para não nos deixarmos absorver por esta espiral de terror e impotência? Como Igreja, como comunidades ou individualmente somos chamados a intervir»Quando estamos bem e comodamente instalados, facilmente nos esquecemos dos outros, não nos interessam os seus problemas, nem as tribulações e injustiças que sofrem; e, assim, o nosso coração cai na indiferença. É uma atitude egoísta que na opinião do Papa Francisco atingiu uma tal dimensão mundial que podemos falar de uma globalização da indiferença. Porque esta atitude o preocupa, decidiu propô-la como tema de reflexão para a Quaresma deste ano. Lembram-se? Foi em Lampedusa, no sul da Itália, que, na sua primeira viagem apostólica, perante a imane tragédia de vítimas da imigração, Francisco alertou pela primeira vez para esse problema global. Quem é o responsável do sangue destes irmãos e irmãs? Ninguém. Todos respondemos do mesmo modo: não sou eu, isso não é comigo, outros serão, mas eu não, certamente. Foi aí que condenou essa indiferença global, fruto dum bem-estar que anestesia as pessoas, que as faz assobiar para o lado e as torna insensíveis aos gritos dos irmãos. Repetiu semelhante apelo perante a constatação que a crise síria ainda não foi resolvida e as pessoas correm o risco de se habituarem a ela, esquecendo as vítimas quotidianas e os sofrimentos inimagináveis de milhares de prófugos. Uma indiferença que dói! Estamos saturados de notícias e imagens impressionantes que nos relatam o sofrimento humano, sentindo ao mesmo tempo toda a nossa incapacidade de intervir. Que fazer para não nos deixarmos absorver por esta espiral de terror e impotência? Como Igreja, como comunidades ou individualmente somos chamados a intervir. Primeiro, porque fazemos parte de um único corpo, há que cuidar dos membros mais frágeis e pequeninos, ultrapassando as fronteiras da Igreja, que deve entrar em relação com a sociedade circundante, com os pobres e com os incrédulos. Que as nossas paróquias e as nossas comunidades se tornem ilhas de misericórdia no meio do mar da indiferença!. Segundo: porque nestes dramas humanitários é grande a força da oração, Francisco avança com a iniciativa 24 horas para o Senhor, que se celebrará em toda a Igreja nos dias 13 e 14 de março. Terceiro: efetuar gestos concretos de caridade que ajudem os de perto e os de longe através dos inúmeros organismos caritativos da Igreja. Por último, porque a necessidade do irmão me recorda a fragilidade da minha vida, a minha dependência de Deus e dos irmãos, que o sofrimento do próximo constitua um apelo à mudança de atitudes. É com estes meios – conclui Francisco – que poderemos adquirir um coração forte e misericordioso, vigilante e generoso, que não se deixa fechar em si mesmo nem cai na vertigem da globalização da indiferença.