«O Papa sonha com uma Igreja que se assemelha a um hospital de campanha que cuida dos mais frágeis e não uma estação de serviço onde cada um se abastece a seu gosto», realça antónio Francisco, bispo do Porto
«O Papa sonha com uma Igreja que se assemelha a um hospital de campanha que cuida dos mais frágeis e não uma estação de serviço onde cada um se abastece a seu gosto», realça antónio Francisco, bispo do PortoFátima Missionária Que mudanças tem sentido com o Pontificado do Papa Francisco e que repercussões estas têm tido na Igreja, em particular na Igreja em Portugal? antónio Francisco a primeira mudança diz respeito à sua própria eleição. Foi a primeira vez que foi eleito um bispo da américa do Sul (do fim do mundo, segundo a sua expressão), um jesuíta, um bispo com uma experiência pastoral muito criativa no terreno muito diversificado sociologicamente de uma grande diocese, como Buenos aires, e com uma afirmada intervenção na vida social do seu país, a argentina. a segunda mudança anuncia-se logo na escolha do nome Francisco. Esta escolha do nome aponta um caminho de serviço aos pobres e propõe um modelo de uma Igreja serva dos pobres, que precisa de ser evangelizada pelos pobres, seguindo o exemplo de São Francisco de assis. Uma terceira mudança consistiu na decisão de permanecer a residir na Casa de Santa Marta junto dos bispos, sacerdotes e leigos que trabalham no Vaticano. aí celebra diariamente a Eucaristia, aí partilha as refeições. Na proximidade com as pessoas ensina-nos este jeito profético da simplicidade, da sobriedade e da alegria do Evangelho. Esta decisão pode parecer um gesto insignificante mas marca toda a diferença. a partir daí surge o seu magistério de bispo de Roma e de sucessor de Pedro através da sua palavra simples e acessível a todos e nascem com impressionante espontaneidade os seus gestos proféticos. E são tantos, tão belos e tão pedagógicos! O Papa Francisco é um dom para a Igreja e uma bênção para o Mundo! FM Como tem encarado os apelos lançados pelo Santo Padre para o interior da Igreja? E como tem reagido a essas interpelações? aF Há três dimensões no seu ensinamento e no seu sonho para a Igreja: o Papa Francisco deseja uma Igreja em estado permanente de conversão, centrada em Cristo e não em si mesma; uma Igreja com coração de mãe, disponível para acolher os pobres e os pecadores; uma Igreja de discípulos missionários, decidida a ser missão para ir a todas as periferias existenciais. O Papa sonha com uma Igreja que se assemelha a um hospital de campanha que cuida dos mais frágeis e não uma estação de serviço onde cada um se abastece a seu gosto. O Papa Francisco é para todos nós, em Igreja, o testemunho feliz de um Homem de Deus, que está onde Deus o enviou e realiza o que Deus lhe pede. aí nasce a sua liberdade e aí se inspira a ousadia pastoral com que nos surpreende em cada dia. O Papa Francisco trouxe uma nova primavera à Igreja. a sua vida fascina os que não são crentes e guia os que acreditam. Ele traduz para nós o evangelho de Jesus e ensina-nos os caminhos que devemos percorrer no século XXI. E isto dá-me pessoalmente, como crente e como bispo, na missão que ele me confiou ao serviço da Igreja do Porto, muita alegria, renovada coragem e incentivo para o trabalho. Hoje não há outra maneira de ser pastor do povo de Deus e discípulo de Jesus, senão esta que o Papa Francisco todos os dias nos ensina. FM Os conceitos de proximidade, de uma Igreja mais missionária e em saída, proclamados pelo Papa Francisco, estavam adormecidos na Igreja? De que forma podem estas propostas refletir-se positivamente na comunidade cristã em Portugal? aF a Igreja de Portugal tem afirmado de muitos modos esta íntima comunhão com o Papa Francisco. Estamos decididos em todas as dioceses a fazer da alegria do evangelho a nossa missão, como nos propõe o Papa Francisco. Temos de vencer muita ignorância nas convicções de fé, rotinas no campo pastoral e medos no âmbito das intervenções sociais. Devemos ser mais criativos no percurso da iniciação cristã, da formação dos agentes de pastoral e das iniciativas pastorais e mais interventivas no campo cultural e social. Importa interrogarmo-nos sobre a maturidade e a consistência da fé de tantos cristãos que vivem uma fé muito tradicional e emotiva, que se fragiliza facilmente frente a qualquer adversidade. a comunidade cristã de Portugal, que noutros tempos foi missionária e corajosa, deve dar ao mundo de hoje, sobretudo aos jovens, novas razões de esperança e tornar visível o rosto feliz de uma Igreja atenta a todos, disponível para a todos acolher e interventiva na transformação e construção do mundo solidário e fraterno.