O Papa Francisco «trouxe um novo estilo de exercer o ministério desde a sua primeira apresentação na varanda da basílica de São Pedro», considera antónio Marto, bispo da diocese Leiria-Fátima
O Papa Francisco «trouxe um novo estilo de exercer o ministério desde a sua primeira apresentação na varanda da basílica de São Pedro», considera antónio Marto, bispo da diocese Leiria-FátimaFátima Missionária Que mudanças tem sentido com o Pontificado do Papa Francisco e que repercussões estas têm tido na Igreja, em particular na Igreja em Portugal? antónio Marto Os dois anos de Pontificado do Papa Francisco têm sido um biénio fascinante e cheio de energia evangélica. É um tempo demasiado breve para um balanço, mas suficiente para detetar os principais traços da mudança, que nos permite desde já, caracterizá-lo como Papa reformador da Igreja e personalidade ímpar de referência num mundo desorientado. Trouxe um novo estilo de exercer o ministério desde a sua primeira apresentação na varanda da Basílica de São Pedro: a simplicidade evangélica despojada do fausto exterior; a proximidade através dos gestos e palavras que tocam o coração não só dos cristãos mas de todos dos homens e contagiam de entusiasmo e esperança; a sua vontade de agir em favor dos mais frágeis, das pessoas e dos países mais pobres e de uma economia solidária e inclusiva; o impulso dado à missão da Igreja para sair de si e ir ao encontro das periferias onde se sofre e se é marginalizado; a cultura do encontro entre pessoas e povos diversos; a reforma das instituições, sobretudo da Cúria romana, para que haja mais verdade e transparência evangélica; a sinodalidade como estilo de participação na vida eclesial; a valorização do lugar e da missão da mulher na Igreja; o impulso dado ao ecumenismo e diálogo inter-religioso. a meu ver, trata-se de uma revolução evangélica que exige um longo caminho de profunda renovação espiritual. Creio que o Papa Francisco está a realizar esta mudança sobretudo pelo exemplo e está ciente de que vai levar tempo a envolver toda a Igreja e todas as comunidades. FM Como tem encarado os apelos lançados pelo Santo Padre para o interior da Igreja? E como tem reagido a essas interpelações? aM Da minha parte considero que o Papa Francisco com este seu estilo e este programa é uma grande graça de Deus para a Igreja e para o mundo do nosso tempo.como ele mesmo diz, trata-se de uma nova etapa de evangelização marcada pela alegria do Evangelho, que exige um novo estilo e novos métodos num mundo pluralista com muitas fragilidades, feridas e conflitos de vária ordem, que precisa mais de estilo de misericórdia do que de condenações.com a denúncia e as condenações do mal no mundo não se pode fazer um programa pastoral. É muito bela e pertinente a imagem da Igreja usada pelo Papa como hospital de campanha chamada, antes de mais, a cuidar dos feridos e a curar as feridas. a misericórdia é a chave de compreensão da pastoral do Papa Francisco e o seu novo estilo de se relacionar com o mundo- Também este aspeto requer conversão nas nossas comunidades para se tornarem acolhedoras, abertas e atenciosas a todos. FM Os conceitos de proximidade, de uma Igreja mais missionária e em saída, proclamados pelo Papa Francisco, estavam adormecidos na Igreja? De que forma podem estas propostas refletir-se positivamente na comunidade cristã em Portugal? aM Uma tentação de todos os tempos para a Igreja é ser autoreferencial, fechada e voltada para si mesma e os seu problemas internos.com a mudança de época que estamos a viver nas últimas décadas e os problemas inéditos que trouxe, a Igreja como que se pôs à defesa num cidade amuralhada. O Papa Francisco, vindo com uma experiência nova da américa Latina, vem despertar a dimensão missionária com a expressão Igreja em saída para levar a luz e o calor do evangelho às periferias humanas da pobreza material e espiritual, da exclusão dos marginalizados, ao mundo de sofrimento e ao mundo da descrença. Em expressão do Papa, das periferias vê-se melhor o centro e a sua missão. É um caminho claro, sem margem a dúvidas, que vai exigir despojamento e criatividade. Mas já começamos a percorrê-lo entre nós.