Muita gente tem medo das mudanças internas e não lhes dá valor, mas são as únicas que podem contribuir para satisfazer as nossas necessidades mais profundas que ficam insatisfeitas quando entramos no Círculo de rotina destrutiva
Muita gente tem medo das mudanças internas e não lhes dá valor, mas são as únicas que podem contribuir para satisfazer as nossas necessidades mais profundas que ficam insatisfeitas quando entramos no Círculo de rotina destrutivaHá uns meses, numa sessão de formação com professores de um colégio, alguém utilizou esta expressão: a rotina está a matar-me. O curioso desta situação foi que, depois desta afirmação, todos ficaram em silêncio e acabaram por concordar com o professor de matemática. Quem cala consente, diz um adágio popular, muito utilizado para indicar que muitas vezes o silêncio pensante é um modo de estar em concordância com o enunciado evocado. Ter uma vida rotineira tem a ver com o hábito de fazer ou realizar coisas por mera prática ou mecanicismo sem muito raciocinar. Um estudo realizado pela neurociência afirma que uma pessoa normal vive mais de 40 por cento do seu dia numa espécie de círculo repetitivo chamado loop ou laço da rotina. Isto quer dizer que quatro em cada dez decisões que tomamos no nosso dia a dia são feitas sem muita reflexão ou análise crítica. É a isto que eu chamo viver em piloto automático. Os hábitos, que são o esqueleto motor da nossa rotina, são uma espécie de atalho na nossa mente e por vezes deixam marcas que os tornam automáticos, associativos e livres de esforço, e por isso é difícil sair da rotina ou mudar de costumes.com isto não quero fazer da rotina algo puramente negativo na vida de uma pessoa. Estou convencido que a rotina também dá uma certa estabilidade à vida do ser humano, algo muito necessário para o equilíbrio bio-psico-afetivo. a chamada de atenção desta reflexão está no facto que, muitas vezes, me encontro com pessoas a viver quase em cem por cento das suas vidas em estado de piloto automático, ou seja, sem se questionarem sobre quem são e o que fazem. Vivem porque o ar é gratuito, porque estão cómodas nas suas zonas de conforto, e justificam-se sempre com a tenra desculpa que assim foram educadas e ensinadas. Na minha opinião, o problema de fundo que produz a rotina é o facto de preterir a criatividade e a capacidade do assombro assim como a sensação particular de ser capaz de surpreender-se por tudo o que acontece de novo e único, pois cada dia que passa e cada pessoa com quem nos encontramos são diferentes e novos. Romper com a rotina é a chave para poder desfrutar do novo e para poder desvelar o mistério que a vida esconde para nós. atenção: romper a rotina não tem nada a ver com romper com a própria vida. Muita gente pensa que a mudança depende de fatores externos. Mudar de casa, de trabalho, de móveis, de carros, ou de casal, não é a solução para sair do círculo da rotina fatigante. Sair do estado de piloto automático é o grande desafio para quem deseja pilotar a sua vida com as suas próprias mãos e o seu coração. Sair da rotina alienante tem a ver com a coragem de mudar por dentro. Muita gente tem medo das mudanças internas e não lhes dá valor, mas são as únicas que podem contribuir para satisfazer as nossas necessidades mais profundas que ficam insatisfeitas quando entramos no círculo de rotina destrutiva. Olhando de modo particular para uma temática que me interessa, considero que a vida de fé de muitos cristãos também tem sido baralhada por ter colocado a busca de Deus em piloto automático. Muitos fizeram da oração, da vivência dos sacramentos e da prática da caridade uma rotina, que pouco a pouco foi esvaziando de sentido o coração daqueles que procuram uma experiência atual, viva e nova, com a transcendência. Criar rotinas que nos permitam estar em permanente estado de procura e criatividade e que nos empurrem para fora das nossas falsas seguranças para experimentar a vertigem do novo, é o maior desafio para quem quer ser protagonista do seu próprio voo sem piloto automático.