«O Papa diz também que temos que ir até às periferias e margens e estou convencido de que a paixão pelos mais pobres enche-nos mais o coração do que andar de barriga farta nos Círculos onde nada parece faltar»
«O Papa diz também que temos que ir até às periferias e margens e estou convencido de que a paixão pelos mais pobres enche-nos mais o coração do que andar de barriga farta nos Círculos onde nada parece faltar»O padre e jornalista Tony Neves parece ter nascido com o dom da comunicação. Transborda boa disposição e consegue captar com facilidade a atenção de uma plateia, ao contar as suas histórias de vida. algumas parecem apenas episódios banais e divertidos, mas têm quase sempre um fundo humano e evangelizador. Natural de Foz do Sousa, Gondomar, o Superior Provincial dos Espiritanos em Portugal, de 52 anos, continua a acreditar num mundo mais fraternoFátima Missionária – Em que momento percebeu que queria seguir o sacerdócio. E porquê missionário e não diocesano? Tony Neves Desde cedo quis ser padre pois tinha dois Espiritanos e uma Espiritana na família. Por isso, para mim ser padre era ser Espiritano. FM alguma vez sentiu que se tinha enganado na vocação? TN Não, mas vou tendo alguns momentos de menos força. Quando, em angola, vi tanta gente a morrer à minha volta, senti que Deus tinha deixado alguns bandidos à solta… e a maioria das vítimas eram inocentes civis que queriam tanto a paz como o pão para a boca. FM Como é ser consagrado nos tempos atuais? TN É ser um remador contra a corrente. E isso é fantástico porque ir pela corrente abaixo não tem piada nenhuma. O Papa Francisco diz que é preciso avançar primeiro, ousar… e isso dá mais gozo que andar a correr atrás dos outros. O Papa diz também que temos que ir até às periferias e margens e estou convencido de que a paixão pelos mais pobres enche-nos mais o coração do que andar de barriga farta nos círculos onde nada parece faltar. FM Do que precisa um sacerdote para manter atrativa a Palavra do Evangelho? TN É preciso ser muito íntegro e muito feliz. Isso é o mais difícil, mas o mais realizador. Sabendo nós que o Evangelho é uma Boa Notícia, então estamos à espera de quê para a dar ao mundo? Será que não percebemos ainda que as pessoas hoje precisam dela? Continuo convencido de que é possível construir um mundo mais humano, mais fraterno e mais cristão. Essa ousadia cabe-nos a nós!FM Perante a situação difícil de muitas famílias portuguesas, onde vai buscar força e inspiração para lhes continuar a transmitir uma palavra de esperança? TN Momentos críticos sempre houveram e eu vivi em contextos de crise profunda, alguns bem piores dos que se vivem hoje em Portugal. Quando os evoco, há gente que fica irritada (como quem diz: esse não é o meu problema), mas também há gente que reduz o tamanho da sua angústia quando se compara com pessoas que vivem dramas imensamente mais graves. Não é que o mal dos outros resolva os nossos problemas, mas é salutar saber que outros viveram dramas maiores e encontraram caminhos de solução. Rezar e invocar o Espírito Santo são sempre caminhos de futuro, geradores de esperança.