«Viver verdadeiramente é assumir o protagonismo da própria história e deixar de esperar que o mundo de fora mude, porque o mundo em que vivemos não é mais do que um espelho daquilo que nós andamos a fazer com a nossa vida»
«Viver verdadeiramente é assumir o protagonismo da própria história e deixar de esperar que o mundo de fora mude, porque o mundo em que vivemos não é mais do que um espelho daquilo que nós andamos a fazer com a nossa vida»Com mais um ano a terminar e antes de acolher o novo ano que se aproxima, uma pergunta fundamental nasce no meu coração: como correu o ano que passou? Mil e um pensamentos bombardeiam a minha mente e se impõem como a resposta mais relevante e importante. Mas, para a avaliar convenientemente, considero que a primeira pergunta a fazer é esta: será que tenho sido o protagonista principal da minha própria história?Olhando para as pegadas de muitas pessoas com quem tive a sorte de partilhar a minha vida, descubro que há um grupo numeroso na sociedade que optou por ser ator secundário da sua própria história. Para muitos, é a sociedade ou alguns dentro dela que determinam quais devem ser os nossos sonhos e o que devemos fazer para os atingir e sermos felizes. De facto, não é difícil ultimamente encontrar jovens a viver sonhos que não são os seus: muitos estudam para seguir carreiras que não sonharam, trabalham em empregos que não desejam e seguem caminhos que não sabem para onde os levam. O ritmo voraz e impositivo do mundo em que vivemos pegou nas rédeas de muita gente que não sabe para aonde vai e opta muitas vezes pelo caminho da vitimização. Numa sociedade competitiva não faltam os que gostam de roubar o triunfo dos outros, brilhar com as luzes de quem as tem e aproveitar-se dos mendigos de emoções e sensações novas. Quem se coloca no papel de vítima desta sociedade e dos seus paradigmas, no trabalho, na família, no seu grupo ou no seu bairro, corre o perigo de ficar com o papel de espectador da sua história. Quem com frequência gosta de assumir o papel de vítima dificilmente assume responsabilidades, nunca tem tempo para nada, porque para ele a culpa é sempre dos outros, e acha por isso que não pode fazer nada para mudar. O preço desta subtil inocência é sempre a impotência. Quem assume o papel de protagonista na construção da sua própria história assume primeiro com humildade o seu talento de aprendiz. O protagonista sente-se parte do problema e é com responsabilidade, mas também com humildade, que se reconhece em constante aprendizagem e contribui assim para as mudanças com que deve afrontar a sua história. assumir o protagonismo da própria vida exige que ouçamos o que realmente queremos e aprendamos a pensar por nós mesmos. Quem é protagonista da sua história sabe que é muito melhor aprender a surpreender-se do que a dececionar-se das mil e uma expectativas infundadas que criamos em nós. O protagonista vive da vertigem de aprender a arriscar em detrimento do medo que paralisa e do pessimismo dos que esqueceram que a vida é uma constante sucessão de novas oportunidades para quem se atreve a recomeçar com o olhar fixo na busca de novos horizontes. Impressionou-me uma frase da Madre Teresa de Calcutá, muito simples, mas forte e verdadeira: as pessoas morrem sem nunca terem vivido. Isto faz-me pensar sobretudo quando me encontro com pessoas que vivem a história de outros e não a sua. Há pessoas que pensam que viver tem a ver com a realização de todas as funções biológicas. Outros ainda não aprenderam que viver não é saber de cor os canais de televisão ou os títulos dos jornais. Uns quantos fazem do viver uma eterna lembrança daqueles que causaram dano à sua vida. Outros pensam que viver é perpetuar os desejos inconclusivos ou os medos daquilo que lhes pode acontecer, e vivem em constante ameaça, fora do aqui e agora. Viver verdadeiramente é assumir o protagonismo da própria história e deixar de esperar que o mundo de fora mude, porque o mundo em que vivemos não é mais do que um espelho daquilo que nós andamos a fazer com a nossa vida.