a mesa mais abundante não pode fazer esquecer os que nem sequer têm condições para uma refeição diária neste tempo em que a fome no mundo continua a ser um problema adiado
a mesa mais abundante não pode fazer esquecer os que nem sequer têm condições para uma refeição diária neste tempo em que a fome no mundo continua a ser um problema adiadoO Natal é a festa da ternura de Deus que visita o seu povo. O consumismo em que as pessoas se afogam desvirtua, porém, esta quadra que devia ser ocasião para reforçar os laços familiares à volta da mesa. a comida, aliás, foi sempre o meio mais simples para exprimir o afeto, a solidariedade, a amizade, o desejo de que o outro viva e se sinta bem. a mesa mais abundante neste dia não pode fazer esquecer os que nem sequer têm condições para uma refeição diária neste tempo em que a fome no mundo continua a ser um problema adiado. Numa recente mensagem ao diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a alimentação e a agricultura (FaO), o Papa Francisco disse que é um escândalo que ainda exista fome e subnutrição no mundo e denunciou o consumismo e o desperdício. Considerou aliás que um dos desafios mais sérios para a humanidade é o da trágica condição em que vivem ainda milhões de pessoas famintas e subnutridas, incluindo muitas crianças. E acrescentou que a fome e a subnutrição são apenas um dos frutos da cultura do desperdício. É isso: a cultura ou a subcultura do desperdício. É de facto escandaloso saber que um terço de toda a comida produzida no mundo vai para o lixo, quando sabemos que há ainda 870 milhões de pessoas que vivem na insegurança alimentar. Uma em cada oito pessoas todos os dias vai dormir com fome. Em Portugal há cerca de 360 mil pessoas que passam fome, mas há 50 mil refeições que são diariamente desperdiçadas de norte a sul do país, o que corresponde a um milhão de toneladas por ano, isto é, 17 por cento dos alimentos produzidos para consumo humano. Tinha razão o anterior porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa quando dizia que todo o desperdício é de alguma maneira um crime contra aqueles que estão a passar mal sobretudo nestes tempos de crise. Importa reconhecer que vão aparecendo em Portugal boas iniciativas de combate ao desperdício, mas a questão, que é cultural, requer uma resposta que passa pelas escolas, pela criação de hábitos alimentares e pela sensibilização para os problemas ambientais. Francisco coloca esta questão na hodierna cultura do descartável e recorda-nos como antigamente os nossos avós eram muito cuidadosos em não lançar para o lixo o alimento que sobrava. Hoje, porém, o consumismo leva-nos a habituar-nos ao supérfluo e ao desperdício quotidiano dos alimentos (). a comida que se deita fora é como se fosse roubada da mesa do pobre.