Os ciganos, com a sua cultura própria, devem ser respeitados enquanto tal. Nascidos em Portugal são lusos como todos os outros, mas a sociedade nem sempre os acolhe e integra como era seu dever
Os ciganos, com a sua cultura própria, devem ser respeitados enquanto tal. Nascidos em Portugal são lusos como todos os outros, mas a sociedade nem sempre os acolhe e integra como era seu dever

Desde longa data que a etnia cigana não é devidamente aceite na sociedade portuguesa, talvez em parte porque esta não dispôs das mesmas condições de acesso, sobretudo devido a uma cultura própria que, por vezes, dificulta a integração na nossa vida comum. Mas por outro lado, parte destes também sentirão mais apetência a viver à margem da sociedade, optando por seguir as suas regras e princípios tradicionais.

Há necessidade de trabalhar em diálogo de molde a ser possível fundir as culturas, ou seja, que a sua integração na sociedade seja feita de forma idêntica aos restantes portugueses, sem beliscar os seus princípios ancestrais. O povo cigano preza muito a sua cultura enquanto nómada, mas os tempos evoluíram e necessitam de encarar também as novas realidades para que a sua integração não seja descriminada e eles próprios não se sintam como tal.

O mercado do trabalho é um dos setores que está em crise e a etnia cigana, como todos os outros, certamente que o sente na pele. Na semana que agora finda foi conhecido o novo programa do Fundo Social Europeu com os apoios até 2020 direcionado aos portugueses desta etnia.

Portugal é dos países com menos ciganos integrados no mercado de trabalho, razão pela qual o alto Comissariado para as Migrações (aCM) vai aplicar cerca de 3 milhões de euros das verbas do Fundo Social Europeu num programa pioneiro.

Em declarações prestadas à Lusa, Pedro Calado, alto-comissário para as Migrações adiantou que o aCM vê no próximo quadro comunitário de apoios oportunidades importantes para relançar alguns projetos. afirmou ainda que não há plena integração sem acesso ao mercado de trabalho, pelo que pretende arrancar com um programa pioneiro em Portugal para fomentar a transição das comunidades ciganas para o mercado de trabalho, seja por via da formação intensiva, da colocação em estágios ou eventualmente com a criação de negócios.

O objetivo deste programa é criar ambientes protegidos para garantir que os ciganos que se qualificam e passam, como todo os outros portugueses, por um processo de formação e de aumento das suas competências, têm uma oportunidade de trabalhar, sintetizou o alto-comissário.

Pedro Calado informou que o aCM já tem garantia de verbas por parte do Fundo Social Europeu no valor de 500 mil euros por ano até 2020, o que vai perfazer à volta de 3 milhões de euros de investimento para de facto começarmos a ter ciganos integrados no mercado de trabalho, adiantou. O responsável referiu que Portugal é dos países europeus com menos ciganos integrados no mercado de trabalho, revelando que é objetivo do aCM ter estes projetos no terreno a partir de julho de 2015.

O alto-comissário revelou também que, em matéria de comunidades ciganas, é objetivo do aCM relançar o programa de mediadores municipais, um projeto que tem sido claramente apontado como boa prática, inclusive pelo Conselho da Europa. O aCM pretende ainda fazer o lançamento do Observatório das Comunidades Ciganas, uma meta igualmente prevista na ENICC, e que irá recolher dados e produzir informação para ajudar a desconstruir alguns dos preconceitos, que prevalecem sobre as comunidades ciganas. É grato constatar a preocupação das entidades internacionais (e nacionais) em prol da etnia cigana, porque esta, mesmo sendo uma minoria, merece que a comunidade não esqueça a sua origem tratando-a com o respeito que merece.