as condições de crise económica em que um país vive permitem o aparecimento de mais ricos? Porquê? Em contrapartida, aumenta desmesuradamente o número de pobres. Não haverá aqui uma falha grave de injustiça social?
as condições de crise económica em que um país vive permitem o aparecimento de mais ricos? Porquê? Em contrapartida, aumenta desmesuradamente o número de pobres. Não haverá aqui uma falha grave de injustiça social?

O fato de haver mais ricos não deveria ser prejudicial. Pelo contrário! Mas quando acontece que no extremo oposto também caem mais pessoas nas malhas da miséria, então há algo que está errado. Um estudo recente do Credit Suisse, citado pelo Diário Económico no passado dia 15, refere que existem atualmente 75. 903 milionários em Portugal, mais 10. 777 do que no ano anterior. E já em 2013, haviam surgido 10. 395 novos milionários no país. Só nos últimos dois anos Portugal criou 28% dos seus milionários – indivíduos com mais de um milhão de dólares de riqueza líquida, ou seja, ativos financeiros mais ativos imobiliários menos dívida, sendo que 60% de toda a riqueza do país está concentrada nos 10% mais ricos.

Na verdade, o flagelo da desigualdade da distribuição da riqueza não se cinge apenas a Portugal, pois estes números colocam o país ao lado de nações como a Grécia, Espanha, França, Itália, ou Reino Unido. Mas também países nórdicos como a Holanda ou a Finlândia, para além do Canadá, austrália ou Emirados Árabes Unidos, no que o Credit Suisse classifica de desigualdade média. Ou seja, países onde os 10% mais ricos detêm entre 50% a 60% da riqueza nacional. Nos extremos, com mais de 70% da riqueza encontram-se os EU a e a Suíça, além de vários mercados emergentes da Ásia à américa Latina. Em contrapartida, apenas a Bélgica e o Japão figuram entre os países com baixa desigualdade.

a concentração de riqueza a nível mundial é sempre uma injustiça contra a humanidade. Qualquer ser humano deveria ter direito a condições mínimas de sobrevivência e isso não se verifica devido à desigualdade gritante que campeia. Independentemente das ideologias dos países, o problema é transversal à maioria destes, pois os governantes dão outras prioridades às suas políticas e acabam por penalizar quase sempre os mais indefesos.

Como é evidente ricos e pobres sempre os houve e assim continuará. Mas é possível atenuar as carências dos que menos têm, criando políticas de apoio à família, sobretudo através da criação de riqueza coletiva. Só que esta tem que ser ponderada e disciplinada. Se a retoma da economia em Portugal não se tornar uma realidade a médio prazo a desigualdade não será combatida, pelo contrário, há a certeza de aumentar.

Olhando com atenção para o Orçamento de Estado (OE) para 2015, que foi aprovado a semana passada no parlamento português, ficamos com a sensação de que continuaremos a caminhar para um abismo quase inevitável. Mas não tinha que ser assim. Os governantes, mesmo sabendo que o crescimento económico é a única saída para Portugal, mantêm os mesmos vícios de que o país padecia antes do acordo com a troica. a fiscalidade aumenta (mais impostos), sobretudo para os que menos têm, mas continuam por atacar problemas como o gasto excessivo do próprio Estado e os lucros exagerados das grandes empresas. a prova disso é que a divida do país continua a aumentar (somos o país mais endividado do Mundo, como referiu o economista Medina Carreira). Isto implica a inexistência de um controlo adequado, e portanto continuam a ser sacrificados os que menos têm. É caso para perguntar: até quando?

Um Estado que, em vez de cumprir a sua missão de proteger todos os cidadãos, tendo um sentido de justiça social, mas que acaba por executar políticas que levam a uma maior desigualdade, poderá ser considerado competente e responsável? Responda quem souber!