O papel dos avós na sociedade atual nunca foi tão importante. Casais com filhos, com ou sem trabalho, socorrem-se dos pais para manter o seu emprego e mesmo para subsistirem quando não têm rendimentos
O papel dos avós na sociedade atual nunca foi tão importante. Casais com filhos, com ou sem trabalho, socorrem-se dos pais para manter o seu emprego e mesmo para subsistirem quando não têm rendimentos

a subsistência económica das famílias com filhos está seriamente afetada com os baixos salários, para quem os tem, e ainda mais para os casais onde um elemento do agregado está desempregado, ou mesmo os dois. a crise económica que o nosso país atravessa leva a que, cada vez mais, os avós sejam a âncora de salvação de filhos e netos, reservando-lhes um lugar muito especial no seu coração. Mesmo correndo o risco de comprometer as suas poupanças para a velhice, muitos com parcas reformas, não hesitam em receber os netos e prestar o carinho e assistência que estes precisam.

a Fundação Calouste Gulbenkian financiou o estudo a prestação de cuidados pelos avós na Europa, em que é feita uma análise comparativa sobre as políticas familiares e a sua influência no papel dos avós, enquanto prestadores de cuidados infantis em vários países – Áustria, Bélgica, Dinamarca, França, alemanha, Grécia, Itália, Holanda, Espanha, Suécia, Suíça, Portugal, Espanha Itália e Roménia. Segundo o estudo, mais de 40% dos avós dos países europeus analisados prestam cuidados aos netos sem a presença dos pais, sendo os países do sul da Europa – Portugal, Espanha, Itália e Roménia – os que apresentam uma maior percentagem de avós a cuidarem dos netos diariamente. a percentagem de avós que presta cuidados diariamente, ou quase diariamente, aos netos em Portugal é de 14% e isso deve-se essencialmente à ausência de políticas de apoio à família.

Os autores do estudo alertam para o papel vital dos avós, mas invisível, na prestação de cuidados infantis, seja de forma intensiva, regular ou ocasional, que pode colidir com as suas próprias capacidades de autofinanciamento da sua velhice, sobretudo quando as prestações de viuvez, tanto ao nível dos regimes de pensões estatais como das entidades patronais, estão degradadas. Em Portugal, devido às medidas de austeridade impostas pelo programa de assistência financeira, os pensionistas têm sofrido cortes nas suas pensões e muitos outros perderam o direito à prestação solidária atribuído pelo Estado (Complemento Solidário para Idosos). Isto acontece numa altura em que o desemprego dos filhos os leva a assumir encargos financeiros da família.

a população portuguesa revela um continuado envelhecimento demográfico, em resultado do declínio da fecundidade, do aumento da longevidade e da emigração. Perante esta situação é imperioso alterar o modelo de forma a evitar os efeitos nefastos da falência do estado social. Nesse sentido, impõe-se o regresso a uma sociedade de valores que assente no pilar da família, por forma a diminuir o desemprego e a viabilizar um estado social sustentável. Durante estes últimos mandatos, os governosnão implementaram uma política estratégica de apoio transversal aos vários setores, pelo contrário a família foi sempre o elo mais fraco: na fiscalidade, na liberdade de educação, no apoio especial às famílias mais numerosas, na falta de auxílio especial para os casais no desemprego e em outras áreas importantes.

Para que a sociedade possa evoluir de uma forma saudável, tendo por objetivo o desenvolvimento integral da pessoa, é fundamental a existência de uma política de verdadeiro apoio à família em todas as suas vertentes: financeira, cultural e educacional. Se o governo optar por esta via, tal não impedirá que o papel dos avós continue a ser importante, mas permitirá que estes possam usufruir de uma vida mais digna, não sendo arrastados na onda de dificuldades económicas que se abateram sobre a maior parte das famílias. O esforço acrescido que os avós estão a suportar, muitos na reta final da vida, é deveras louvável, mas eles também merecem que aqueles que detêm a governação cumpram o seu dever como responsáveis de toda a população portuguesa.