Francisco no regresso da viagem apostólica à Coreia, ainda na aeronave, em conversa com os jornalistas afirmou que lhe restam apenas «dois ou três anos» de vida. Certamente será uma previsão pessoal, mas que nos deve fazer refletir
Francisco no regresso da viagem apostólica à Coreia, ainda na aeronave, em conversa com os jornalistas afirmou que lhe restam apenas «dois ou três anos» de vida. Certamente será uma previsão pessoal, mas que nos deve fazer refletir

as agências noticiosas internacionais não deram grande destaque à afirmação do Papa. Possivelmente pela riqueza de outros assuntos tratados referentes à sua viagem, a verdade é que é inédito a abordagem da sua perspetiva de vida. O Pontífice tem 77 anos e, apesar da idade avançada, é um dos mais ativos que já passaram pela cátedra de Pedro. Na entrevista, ele também considerou a possibilidade de renunciar, caso as suas condições de saúde física e mental o impeçam de exercer o papado em pleno.

Mais curioso ainda foi o enquadramento das suas palavras no contexto da popularidade de que desfruta junto das pessoas, especialmente naquela visita de cinco dias à Coreia do Sul: Eu a encaro (a popularidade) como uma generosidade do povo de Deus. Interiormente, tento pensar em meus pecados, em meus erros, para não me iludir, porque sei que isso vai durar pouco tempo. Dois ou três anos. E, depois, vou para a casa do Pai, disse, em tom de brincadeira.

No ano passado, o Papa Bento XVI renunciou ao cargo. O último que havia tomado tal atitudefora Celestino V, em 1294, por causas políticas. Francisco disse que há 60 anos, era praticamente impossível um bispo católico renunciar, mas hoje em dia é comum. O Papa argentino teve de retirar um de seus pulmões durante a adolescência por causa de uma infeção grave. Porém, ele contou aos jornalistas que tem um problema de nervos, que precisa de acompanhamento constante. Para ele, a renúncia seria uma possibilidade, mesmo não agradando a alguns teólogos. Uma dessas minhas neuroses é ser muito caseiro, brincou já que as suas últimas férias fora da argentina foram em 1975, quando visitou uma comunidade jesuíta.

Não estando em causa se o pressentimento (ou vaticínio) papal se confirmará, a verdade é que Francisco terá razões para ter feito tais afirmações. Mesmo sendo um assunto de índole pessoal, será oportuno fazer algumas reflexões, dado que não poderemos separar as afirmações do seu exercício apostólico à frente da Igreja. Já não existem dúvidas de que a Igreja precisava de um Papa com estas características, que emanam da sua solidez na fé e se baseiam no exemplo da própria vida.

Francisco não trouxe nada de novo, apenas revestiu o evangelho com uma roupagem mais acessível ao comum das pessoas, utilizando uma nova linguagem que permite uma compreensão correta e simples. O seu contato com os mais desfavorecidos ao longo da vida deu-lhe uma visão diferente e é essa simplicidade que torna atraente e convincente o seu discurso.

O Papa, desde que assumiu o pontificado, iniciou uma série de reformas dentro da Igreja – a maior parte delas ainda em curso – e certamente que poderá ser um caminho longo, ficando agora a dúvida se as poderá concluir ou não. Já o seu antecessor Bento XVI tinha começado a trilhar essa via, mas não sentiu forças para continuar e optou por renunciar. Francisco também já coloca essa hipótese se a doença o impedir.

Por outro lado recordamos que o jornal italiano Il Tiempo de 19 de agosto passado anunciou que fontes do serviço secreto italiano confirmaram que o sumo pontífice é um potencial alvo de atentado do grupo fundamentalista Estado Islâmico (EI). Segundo o jornal, o Papa é apontado pelos jihadistas como portador de falsas verdades.

Quer sucumba por morte natural, doença ou atentado, Francisco já marcou o seu pontificado na verdade, no amor e na fé. Por isso será sempre o exemplo de uma Igreja que renasceu e que nos encaminha para a casa do Pai.