Durante séculos esta Igreja de leigos, sem clero, sobreviveu a graves perseguições. O catolicismo coreano ainda tem as marcas de um desenvolvimento original, mas a realidade é que continua mais vivo que nunca
Durante séculos esta Igreja de leigos, sem clero, sobreviveu a graves perseguições. O catolicismo coreano ainda tem as marcas de um desenvolvimento original, mas a realidade é que continua mais vivo que nunca

a escolha da Coreia para esta visita apostólica internacional de Francisco tem um significado mais alargado de que se possa pensar. É a primeira vez que o Pontífice visita o Extremo Oriente, uma região do mundo que tem uma relevância cada vez mais acentuada na política e na economia mundial. Certamente que a viagem à Coreia tem como destinatários todos os países do continente, graças à celebração da Jornada da juventude asiática, que se realizou em Daejeon e na qual participaram representantes dos jovens de 23 países. Nesse sentido é um olhar para o futuro, porque a juventude representa o amanhã e Francisco vai ao encontro dos jovens de toda a Ásia.

a viagem do Papa Francisco é claramente marcante pela beatificação de Paul Yun Ji-Chung e dos seus 123 companheiros mártires e a mensagem de reconciliação traz grandes perspetivas: a Igreja na Ásia é uma promessa, disse Francisco, bem consciente de que no país se está assistindo, durante os últimos anos, a um crescimento do cristianismo e da participação na vida da Igreja como não se via há muito tempo em outros continentes e países. Estes 124 mártires, que representam a primeira geração de católicos coreanos, eram todos leigos, com exceção de um sacerdote chinês, padre James Ju Mun-mo, o primeiro a entrar na Coreia e a rezar a primeira missa no país.

a viagem do Papa reforça assim as consciências e ilumina os corações e as mentes dos coreanos, nesta terra onde a questão dos leigos afunda as raízes nas suas origens. De fato, os leigos foram os verdadeiros protagonistas da história desta Igreja, mas, como afirma a Igreja local, é necessário que este seu ser protagonistas continue e se perpetue com o tempo.

Durante a Santa Missa de Beatificação dos 124 Mártires coreanos, com a participação de cerca de um milhão de pessoas, o Papa Francisco pronunciou a homilia, partindo da citação bíblica: Quem nos separará do amor de Cristo? (Rm 8, 35).com estas palavras, o apóstolo Paulo refere-se à glória da nossa fé em Jesus: Cristo não só ressuscitou dentre os mortos e subiu ao céu, mas uniu-nos a si, tornando-nos participantes da sua vida eterna. Hoje celebramos esta vitória, na pessoa de Paulo Yun Ji-Chung e de seus 123 companheiros. Todos viveram e morreram por Cristo e agora reinam com Ele na alegria e na glória. a vitória destes mártires e o seu testemunho, dado por amor a Deus, continua, ainda hoje, a produzir seus frutos na Coreia e na Igreja, animada por este sacrifício, disse o Papa.

O exemplo dos mártires, mencionou o Pontífice, ensina-nos a importância da caridade na vida de fé e a viver numa sociedade, onde, por um lado, há imensas riquezas, e, por outro, cresce silenciosamente uma grande pobreza; uma sociedade que raramente ouve o grito dos pobres, onde Cristo continua a convidar-nos a amá-lo e a servi-lo nos nossos irmãos necessitados.

Destacamos as declarações finais da homilia do Papa quando chamou a atenção dos presentes para os numerosos mártires anónimos deste país e de outros, que ofereceram a sua vida por Cristo ou sofreram duras perseguições, por causa do seu nome. E advertiu: Que o exemplo desses mártires possa inspirar todos os homens e mulheres a TRaBaLHaR, em harmonia, por uma sociedade mais justa, livre e reconciliada, contribuindo assim para a paz e a defesa dos valores autenticamente humanos, neste país e no mundo inteiro.

a reunificação das duas Coreias é outra preocupação, e desejo, que Francisco deu a conhecer aos jovens sexta-feira passada quando, durante um encontro com estes, disse: Vamos rezar pelos nossos irmãos do norte. Senhor, somos uma família. ajuda-nos a alcançar a união. O Senhor pode. Para que não haja vencedores ou vencidos. Só uma família, somente irmãos, disse de improviso. É o desejo da paz, sempre presente no seu coração, que o Papa pretende para todos os povos e países e que deve também refletir-se em cada um de nós na relação com os outros, não esquecendo que a paz deve desabrochar no íntimo de cada pessoa.