«amélia ficou ali sentada no chão, ao lado das crianças a conversar e a aprender a canção do pirilampo. Nesse fim de tarde, o seu telefone não parou. à noite, já tinha um grupo de amigos disposto a fundar uma associação de animação de férias»
«amélia ficou ali sentada no chão, ao lado das crianças a conversar e a aprender a canção do pirilampo. Nesse fim de tarde, o seu telefone não parou. à noite, já tinha um grupo de amigos disposto a fundar uma associação de animação de férias»São tantas as crianças a circular sem destino marcado! E quantas aventuras de destruir! Tantas horas vazias, sem colorido e sem paixão! Foi tudo isto que amélia viu quando percorreu os bairros da cidade onde dava apoio nas férias de verão. ao terminar o seu dia de trabalho no Bairro de Santo antão, entrou no carro com os pensamentos em atropelo:- É preciso fazer alguma coisa, mas o quê? Sozinha, nem pensar! Que posso eu fazer? Nada! Se houvesse alguém a montar uma colónia de férias, mas neste tempo, quem se atreve?!Foi interrompida nesta análise por uma canção infantil cantada em coro, saída da última ruela do bairro. Travou bruscamente. Num canto do pequeno jardim, uma menina com aparência de ter 10 anos, fazia dançar um pauzinho a servir de batuta e fingia ser professora numa sala de aulas ao ar livre. Uma porta velha de cor castanha, apoiada num tronco de árvore, servia-lhe de quadro, onde, letras, números e desenhos feitos com giz, indicavam a lição já dada. À sua frente, em círculo, os alunos: um grupinho de sete meninos e meninas, que, pelo tamanho, deveriam ter quatro ou cinco anos. até tinham banquinhos – uns caixotes de cartão e outros de madeira, trazidos de uma loja de fruta. amélia dirigiu-se à turma que interrompera a canção do pirilampo:- Boa tarde! Reparei que vocês estão numa aula! Tive de parar o carro para conhecer tão brilhantes artistas! Olhinhos encantados e risinhos escondidos foi a resposta inicial. – Vejo que têm uma ótima senhora professora!- É a Joana! Ela ensina música!E também a escrever! E faz jogos – esclareceram os alunos orgulhosos em entusiasmo crescente. – Joana, construíste aqui uma verdadeira sala de aula!- ah, não é nada! É só para distrair os miúdos daqui do bairro. Eles ficam sozinhos enquanto os pais estão a trabalhar – comentou Joana, embaraçada com tamanho destaque. – Uau, Joana! Que grande ajuda tu dás! Quero-te dizer que hoje a tua lição foi também para mim. Uma grande lição! agradeço-te muito!Joana olhava envergonhada para aquela senhora importante que vinha ao bairro. Não sabia bem para quê, mas sabia que era uma senhora importante. amélia ficou ali sentada no chão, ao lado das crianças a conversar e a aprender a canção do pirilampo. Nesse fim de tarde, o seu telefone não parou. À noite, já tinha um grupo de amigos disposto a fundar uma associação de animação de férias. No dia seguinte, a turminha de Joana e amélia foram ao mar buscar pedrinhas para pintar. Passada uma semana já tinham um grupo de pequenos artistas a pintar pedrinhas e a vendê-las em pontos estratégicos da cidade. Nesse verão, as crianças e os jovens do Bairro de Santo antão deliciaram-se com o mar, caminharam na serra, ensaiaram teatro, danças e canções, contaram histórias, pintaram murais e até esculturas montaram. No final das férias, orgulhosos, ofereceram aos pais um espetáculo, onde se descobriram mágicos a criar um mundo encantado. Sobretudo, perceberam o poder da vontade de fazer acontecer, na unidade. E por causa dessa vontade e dessa unidade, o projeto não mais parou!